Se sua alma precisa de um descanso, este filme na Netflix é a resposta Divulgação / Netflix

Se sua alma precisa de um descanso, este filme na Netflix é a resposta

Se há meio século, a infertilidade representava um obstáculo praticamente intransponível para casais que desejavam filhos biológicos, hoje a ciência ressignificou esse cenário. A adoção era a única alternativa possível para aqueles que não podiam conceber naturalmente, uma escolha admirável, mas que não atendia ao desejo de continuidade genética. No entanto, o avanço das tecnologias reprodutivas desafiou dogmas antigos, abrindo portas para a concepção fora do útero, em um laboratório, revolucionando o conceito de parentalidade.

Esses avanços não se limitaram à reprodução assistida, mas transformaram radicalmente a medicina moderna. Diagnósticos e tratamentos tornaram-se mais precisos e acessíveis, órgãos podem ser transplantados, membros reimplantados ou recriados, e até células clonadas são usadas para tratamentos inovadores. Esse progresso foi conquistado graças a cientistas que desafiaram a visão de que o destino humano é imutável. Embora ainda estejamos sujeitos a forças incontroláveis, a ciência permite moldar aspectos essenciais de nossas vidas, ampliando possibilidades antes inimagináveis.

É essa luta pela inovação que impulsiona a narrativa de “Joy”, filme de 2024 dirigido por Ben Taylor e roteirizado por Jack Thorne, Rachel Mason e Emma Gordon. Baseado em fatos reais, o longa retrata a trajetória de três pioneiros: o médico Patrick Steptoe (Bill Nighy), o cientista Robert Edwards (James Norton) e a enfermeira e embriologista Jean Purdy (Thomasin McKenzie). Unidos pela busca incansável pela fertilização in vitro (FIV), eles desafiaram normas sociais, éticas e religiosas, transformando a vida de milhões de casais ao redor do mundo.

A jornada foi marcada por desafios monumentais. O trio enfrentou limitações financeiras, já que o apoio governamental e institucional lhes foi negado. Além disso, lidaram com críticas ferozes de setores religiosos e acadêmicos, que viam seus experimentos como um desafio à ordem natural e às leis divinas. O estigma em torno da manipulação de embriões e as pressões sociais geraram perseguições implacáveis, exigindo um esforço colossal para proteger a identidade das mulheres que se submeteram aos tratamentos experimentais.

As adversidades não se limitaram à rejeição moral e financeira. O trio enfrentou obstáculos pessoais que ameaçaram interromper suas pesquisas. Jean precisou afastar-se para cuidar de sua mãe, diagnosticada com câncer terminal. Edwards se envolveu na política, distanciando-se temporariamente do laboratório. Apesar disso, a visão compartilhada os trouxe de volta ao propósito original. Determinados a criar um espaço seguro para suas pesquisas, fundaram seu próprio laboratório em Oldham, na Inglaterra, enfrentando desafios logísticos e financeiros para seguir adiante.

Após duas décadas de persistência, o esforço finalmente culminou no nascimento de Louise Joy Brown, a primeira “bebê de proveta” do mundo, em 1978. Esse marco redefiniu os paradigmas da medicina reprodutiva, proporcionando esperança a milhões de casais inférteis. A conquista foi reconhecida com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2010, conferido a Robert Edwards, celebrando sua contribuição transformadora para a ciência e a humanidade.

Além de celebrar o triunfo da ciência, o filme presta um tributo essencial a Jean Purdy, cuja importância na revolução da FIV muitas vezes foi ofuscada nas narrativas tradicionais. “Joy” destaca seu papel como pioneira, mostrando que mudanças históricas não ocorrem sem coragem, perseverança e sacrifícios profundos. Ao explorar a história dessas mentes visionárias, o filme não apenas homenageia o passado, mas também inspira o futuro da ciência e da humanidade.

Filme: Joy
Diretor: Ben Taylor
Ano: 2024
Gênero: Biografia/Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★