Acaba de chegar ao Reserva Imovision: drama europeu que é uma jornada de autoconhecimento e solidão Divulgação / British Film Institute (BFI)

Acaba de chegar ao Reserva Imovision: drama europeu que é uma jornada de autoconhecimento e solidão

Em “Sebastian”, o jovem Max (Ruaridh Mollica), de 25 anos, é um escritor que sobrevive com o dinheiro de artigos, entrevistas e contos que publica como freelancer em uma revista. No entanto, suas ambições vão além. Ele deseja escrever e publicar seu primeiro romance, uma história que explora as complexidades morais que atormentam a mente de Sebastian, um rapaz que trabalha como garoto de programa nas noites londrinas. Mas há uma ironia nessa jornada: a linha entre ficção e realidade é muito mais tênue do que aparenta.  

Max é Sebastian. Se, nos círculos intelectuais e culturais de Londres, ele é visto como um escritor promissor, autor de matérias premiadas, nas madrugadas ele assume sua outra identidade, encarnando um alter ego sedutor que se entrega a homens mais velhos em busca de prazer insaciável. Com a pele aveludada e um fôlego incansável, Sebastian é sua persona secreta, um reflexo de desejos reprimidos e necessidades que vão além do dinheiro.  

O filme evita entregar respostas óbvias sobre como Max iniciou essa vida dupla. Seu envolvimento com o trabalho sexual pode ter precedido sua carreira na escrita ou pode ter surgido paralelamente, como uma espécie de extensão de sua curiosidade existencial. O que fica claro é que ele encontra em suas experiências noturnas uma fonte inesgotável de inspiração para seus textos.  

A ironia desse percurso está na contradição interna de Max. Se, por um lado, ele anseia pelo reconhecimento como escritor e busca consolidar sua carreira literária, por outro, sente-se compelido a manter sua outra vida em absoluto sigilo, como se estivesse sufocando uma parte de si que, na verdade, lhe proporciona prazer e liberdade. O dilema não se resume apenas à vergonha ou ao medo da exposição; há também um fascínio inegável pelo mundo que ele habita à noite, sem mencionar os benefícios financeiros que tornam essa escolha ainda mais tentadora.  

O diretor e roteirista Mikko Makela adota uma abordagem contida e intimista para explorar os conflitos morais que fragilizam Max. Em muitos momentos, ele parece sentir vergonha da vida que leva depois do anoitecer, mas é impossível ignorar o brilho nos olhos e a satisfação que experimenta em suas escapadas clandestinas. A situação se torna ainda mais complexa quando ele conhece Nicholas D’Avray (Jonathan Hyde), um homem mais velho por quem desenvolve um afeto silencioso, sem que esse sentimento se transforme em um amor convencional ou em algo que ele possa, de fato, oficializar.  

Os tormentos de Max não vêm apenas de seu universo interno; eles são amplificados pelos tabus sociais e pelo medo do julgamento alheio. A forma como será enxergado pela sociedade pesa sobre ele mais do que seus próprios desejos ou dilemas éticos. Conforme a dualidade de sua vida se intensifica, suas relações começam a se deteriorar, afetando sua carreira, sua família e até sua amizade com Amna (Hiftu Quasem). Ele se vê incapaz de equilibrar suas identidades, e é exatamente nesse conflito que Makela constrói seu estudo de personagem.  

Max é um homem fragmentado, assombrado por suas inseguranças e pela necessidade de se encontrar. Ao escrever sobre Sebastian, ele tenta compreendê-lo, defini-lo, capturar os sentimentos ocultos sob sua pele. “Sebastian” não teme a exposição do corpo e do desejo; suas cenas explícitas e eróticas não são meramente ilustrativas, mas parte essencial da narrativa. O filme busca contar essa história de maneira sensível e honesta, recusando-se a suavizar ou julgar as escolhas de seu protagonista. Em vez disso, propõe um olhar humano sobre identidade, prazer e a eterna busca por pertencimento.  

Filme: Sebastian
Diretor: Mikko Mäkelä
Ano: 2024
Gênero: Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.