Permanece na esfera das hipóteses a verdadeira identidade de um matador em série que tirou o sono da população londrina em 1888. Entretanto (ou por isso mesmo), essa figura sobre a qual não se conhecia nada além da índole predatória acabou por se tornar um dos delinquentes mais populares da vasta crônica policial inglesa, inspiração de diversos pesquisadores ao redor do mundo e alvo da curiosidade pouco profissional de repórteres açorados por fama.
Muito dos bastidores do pânico que tomava Londres no final do século 19 é transposto para a tela em “A Vingança de Jack”, relato de um crime verídico narrado sob o ponto de vista de quem viveu o fato — e aproveitou para inventar muita lenda a respeito. O diretor, roteirista e produtor Steve Lawson mantém a atmosfera de suspense sobre acontecimentos nebulosos, tirando ainda o véu de farsa de cima do que se cristalizou como verdade, prestando um grande serviço à História. À do presente e à do futuro.
Enquanto Jack esteve à solta, Sebastian Stubb engordara seu saldo bancário escrevendo sobre as “proezas” do sicário. Agora, um ano depois das primeiras mortes, ele corta um dobrado para sobreviver, até que, como por encanto, surge uma suposta carta do assassino no seu bolso, fazendo com que a onda de eviscerações recomece. Lawson toca obliquamente o escândalo patrocinado pelo jornal britânico “The Star”, que teria publicado mensagens forjadas cujo autor dizia ser o próprio facínora, até que o embuste ficasse insustentável. O jornal dobrou a aposta e criou um certo Fred Best para responder pela trapalhada, mas só 43 anos mais tarde, em 1931, alegando que as finanças iam mal das pernas. O orçamento restrito obrigou o diretor a concentrar a ação entre a casa de Stubb, sua sala de trabalho no jornal e a delegacia, sem nenhum grande prejuízo dramatúrgico.
Na pele de Stubb, estereótipo do jornalista ambicioso, de pouco escrúpulo, que faz o impensável para subir e, evidentemente, manter-se no alto, Chris Bell domina o enredo com admirável facilidade, compreendendo quando precisa deixar mais à mostra nuanças do temperamento fleumático de seu personagem para que o público entenda para onde a trama deseja ir. Ao cabo dos céleres 85 minutos, “A Vingança de Jack” junta-se à extensa galeria de produções sobre falhas e engodos da imprensa, de quem o tempo, mais cedo ou mais tarde, termina por exigir sua justa reparação.
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