Thriller investigativo com Johnny Depp é tesouro inestimável que está prestes a deixar a Netflix Divulgação / Saban Films

Thriller investigativo com Johnny Depp é tesouro inestimável que está prestes a deixar a Netflix

Em “Cidade de Mentiras”, o espectador não apenas acompanha uma investigação, mas é imerso em um quebra-cabeça denso, onde verdade e manipulação se entrelaçam de forma inquietante. O filme desenterra as falhas da investigação sobre os assassinatos de The Notorious B.I.G. e Tupac Shakur, expondo um sistema corrompido por interesses ocultos. A trama, que avança como um thriller investigativo, desafia o público a questionar até que ponto a justiça pode ser sufocada por aqueles que deveriam promovê-la. A cada cena, novos elementos emergem, e a narrativa meticulosamente construída revela o peso das omissões, das evidências negligenciadas e das barreiras erguidas para impedir que a verdade venha à tona.

No centro dessa teia está o detetive Russell Poole, interpretado por Johnny Depp, um homem consumido por sua obsessão em conectar as peças de um quebra-cabeça que poucos querem resolver. Sua jornada, marcada por uma insistência incansável, reflete a frustração de alguém que viu sua carreira ser sabotada por desafiar o sistema. Ao seu lado, surge o jornalista Darius Jackson, vivido por Forest Whitaker, um personagem fictício que serve como um contraponto essencial, funcionando tanto como catalisador da narrativa quanto como um representante do público dentro da história. A relação entre os dois é um dos alicerces emocionais do longa, mas, em certos momentos, a construção do personagem de Jackson parece limitada, impedindo que sua presença alcance um impacto maior.

A maior força de “Cidade de Mentiras” reside na forma como desmistifica o mito de uma investigação imparcial e revela os interesses que perpetuam o silêncio. O retrato da LAPD é implacável: uma instituição que, em vez de buscar a verdade, protege a própria reputação a qualquer custo. O filme se apoia nesse subtexto político e social para construir um argumento contundente sobre corrupção sistêmica e impunidade, temas que ressoam muito além do universo musical ou da esfera criminal. A frustração de Poole, que tenta navegar por esse emaranhado de mentiras e omissões, é um reflexo de uma realidade mais ampla, onde certos crimes permanecem impunes não por falta de evidências, mas por falta de vontade de enfrentá-las.

Visualmente, o filme aposta em uma atmosfera sóbria e meticulosa, com uma cinematografia que reforça o clima de conspiração e paranoia. A montagem, por sua vez, mantém um equilíbrio entre o aprofundamento investigativo e o ritmo de um thriller, evitando tanto a superficialidade quanto o excesso de didatismo. No entanto, a narrativa esbarra em um desafio inevitável: a ausência de um desfecho conclusivo. Essa decisão, embora frustrante para parte do público, é coerente com a proposta do filme, pois enfatiza a ideia de que, muitas vezes, a verdade permanece inacessível não por falta de provas, mas por ação deliberada daqueles que têm o poder de enterrá-la.

Apesar das críticas que recebeu, “Cidade de Mentiras” é um filme necessário, mais preocupado em incitar questionamentos do que em oferecer respostas prontas. Ele desafia o espectador a olhar além das versões oficiais e a refletir sobre o quanto da história é moldado por narrativas convenientes. Longe de ser um thriller policial convencional, a obra se posiciona como um estudo incisivo sobre poder, manipulação e a fragilidade da verdade diante das engrenagens do sistema.

Filme: City of Lies
Diretor: Brad Furman
Ano: 2018
Gênero: Crime/Drama/Policial
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★