Encerrar uma trilogia nunca é tarefa simples, especialmente quando os capítulos anteriores oscilaram entre promessas não cumpridas e um inesperado carisma. “Venom: A Última Dança” assume esse desafio, buscando um desfecho que, embora imperfeito, tenta conferir dignidade à jornada do simbionte mais anárquico da Marvel. Se o primeiro filme capturou um tom quase ingênuo e o segundo abraçou a insanidade cômica, este terceiro ato busca um amadurecimento emocional, ainda que nem sempre alcance esse objetivo com plena coerência.
O cerne do longa continua sendo a relação entre Eddie Brock e Venom. Esse vínculo, que transita entre o grotesco e o hilário, atinge aqui seu momento mais sincero. A narrativa concede espaço para um aprofundamento nas dinâmicas entre hospedeiro e simbionte, equilibrando humor e reflexão. Tom Hardy, mais uma vez, carrega a franquia nos ombros, oferecendo uma performance que transcende as limitações do roteiro. O humor permanece, mas se apresenta de forma mais contida, complementando momentos de introspecção e sacrifício.
Entretanto, a tentativa de ampliar a mitologia da franquia acaba comprometida por um excesso de subtramas e personagens subaproveitados. A introdução de Knull, o “Deus da Escuridão”, prometia elevar o patamar da narrativa, mas a execução decepciona. Em vez de uma ameaça palpável, sua presença se reduz a um artifício de roteiro genérico, delegando a outros personagens a função de antagonistas secundários. Chiwetel Ejiofor, como Orwell Taylor, não tem material suficiente para deixar sua marca, enquanto Juno Temple, interpretando a Dra. Payne, se limita a funções expositivas, sem grande impacto na trama. O excesso de personagens dilui a força dramática da narrativa, tornando o ritmo irregular e, em certos momentos, disperso.
No aspecto visual, “Venom: A Última Dança” exibe uma qualidade técnica notável, com efeitos visuais competentes que mantêm a fisicalidade do simbionte impressionante. As sequências de ação, embora menos frenéticas do que em seus antecessores, ainda entregam momentos visualmente impactantes. No entanto, o CGI oscila entre o espetacular e o genérico, com algumas cenas reminiscentes de cinemáticas de videogames desatualizados. A direção de arte, por sua vez, tenta estabelecer um tom mais sombrio, mas o filme vacila entre abraçar esse peso dramático e se render ao escapismo despretensioso.
A falta de uma classificação etária mais elevada também impõe limitações evidentes. Enquanto a franquia sempre flertou com o grotesco e a violência estilizada, este terceiro capítulo parece hesitar, entregando cenas de combate que poderiam ser mais intensas e memoráveis. A tentativa de equilibrar um tom mais adulto com restrições comerciais resulta em um filme que nunca se compromete inteiramente com uma identidade definida. Isso se reflete no clímax, que, apesar de buscar um impacto emocional, carece da grandiosidade esperada para uma conclusão de trilogia.
“Venom: A Última Dança” é um reflexo fiel do que a franquia sempre foi: um entretenimento peculiar, oscilando entre momentos brilhantes e escolhas narrativas discutíveis. Para os fãs, há diversão suficiente para justificar sua existência. Para os críticos, persistem as mesmas fragilidades que marcaram os filmes anteriores. O legado de Venom no cinema permanece indefinido, transitando entre o “caoticamente divertido” e o “desperdício de potencial”. Ainda assim, em um cenário de adaptações formulaicas, há algo de louvável na insistência dessa franquia em trilhar um caminho tão singular.
★★★★★★★★★★