Thriller imperdível de Spike Lee, na Netflix, prova por que Denzel Washington é um dos maiores atores de Hollywood Divulgação / Universal Pictures

Thriller imperdível de Spike Lee, na Netflix, prova por que Denzel Washington é um dos maiores atores de Hollywood

Desde a primeira cena até os momentos finais, “O Plano Perfeito” se impõe como um dos filmes de assalto mais engenhosos e instigantes do cinema contemporâneo. Sob a direção precisa de Spike Lee, a trama não apenas respeita as convenções do gênero, mas as subverte com inteligência, conduzindo o espectador por um jogo de xadrez narrativo no qual cada movimento tem um propósito calculado. É um thriller que se recusa a entregar respostas fáceis, confiando na astúcia de seu roteiro e na força de seu elenco para manter a audiência imersa em um labirinto de suspense e mistério.

A espinha dorsal da história é um assalto meticulosamente planejado a um banco de Manhattan, liderado pelo enigmático Dalton Russell (Clive Owen). Longe do criminoso convencional, Russell opera com um método inusitado, ditando as regras do jogo de forma implacável. Do outro lado da equação, o detetive Keith Frazier (Denzel Washington) é convocado para negociar com os assaltantes, apenas para perceber que está lidando com uma mente tão estratégica quanto evasiva. O que à primeira vista parece um caso rotineiro logo se transforma em um quebra-cabeça cujas peças só se encaixam nos instantes finais.

O roteiro assinado por Russell Gewirtz possui estrutura não linear, utilizando flashforwards que desafiam a percepção do espectador. Ao apresentar fragmentos do desfecho ao longo da narrativa, o filme não se limita a surpreender no clímax, mas cria um estado contínuo de antecipação, obrigando o público a questionar cada detalhe. Lee reforça essa abordagem com uma direção estilizada, apostando em ângulos inusitados e uma paleta cromática que intensifica a atmosfera de tensão.

O elenco de apoio é outro pilar fundamental da produção. Christopher Plummer encarna Arthur Case, o dono do banco, cuja respeitabilidade esconde um passado nebuloso. Jodie Foster, no papel de Madeleine White, surge como uma peça externa ao conflito central, mas sua presença adiciona uma camada de intriga moral à trama. Willem Dafoe e Chiwetel Ejiofor completam o conjunto com performances que, embora secundárias, são executadas com precisão.

Um dos grandes méritos do filme está na forma como conduz suas revelações. Ao invés de recorrer a uma reviravolta impactante e repentina, Lee opta por uma construção gradual, na qual cada pista se insere organicamente na narrativa. Esse método não apenas mantém o espectador atento, mas também enriquece a experiência, pois permite que a resolução seja tão lógica quanto inesperada.

Mas nem tudo é perfeito. O excesso de camadas narrativas pode, em alguns momentos, gerar uma sensação de distanciamento, como se estivéssemos diante de um quebra-cabeça meticulosamente arquitetado, mas um tanto frio. Além disso, algumas questões referentes à investigação policial e às motivações de certos personagens poderiam ter sido mais aprofundadas. Ainda assim, tais pontos não comprometem a força da obra, que se sustenta pela solidez de sua execução.

“O Plano Perfeito” transcende o rótulo de mero thriller de assalto, transformando-se em um estudo meticuloso sobre estratégia, manipulação e poder. Com um elenco de primeira linha, um roteiro afiado e uma direção que equilibra estilo e substância, Spike Lee entrega um filme que desafia o público a enxergar além do óbvio. O resultado é uma narrativa envolvente e sofisticada, que prova que inteligência e entretenimento podem — e devem — caminhar lado a lado no cinema.

Filme: O Plano Perfeito
Diretor: Spike Lee
Ano: 2006
Gênero: Crime/Drama/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★