Demorou mais de 50 anos para esse momento chegar… e agora ele está a um clique no Disney+ Divulgação / Hulu

Demorou mais de 50 anos para esse momento chegar… e agora ele está a um clique no Disney+

Por que, mesmo depois de tanto tempo, “O Planeta dos Macacos” continua a despertar discussões e análises? É possível que nem Franklin J. Schaffner (1920-1989), responsável pelo filme que deu início à franquia, pudesse prever o impacto duradouro de sua obra. No entanto, uma comparação entre a saga iniciada por ele em 1968 e outras séries cinematográficas que também se perpetuaram por décadas revela uma diferença crucial: enquanto muitas produções não conseguem transcender a mera repetição de fórmulas lucrativas, essa narrativa evoluiu, mantendo sua força conceitual e relevância.

“Planeta dos Macacos: O Reinado”, dirigido por Wes Ball, estreou com um investimento de 129 milhões de dólares e arrecadou 230 milhões antes de migrar para o streaming. Mas o real atrativo do filme não está em sua bilheteria. A trama, repleta de reviravoltas e sequências impecavelmente construídas, vai além da tecnologia avançada da captura de performance, oferecendo um enredo que ressoa com questões contemporâneas. Sendo o nono capítulo da franquia ao longo de quase seis décadas, esse novo episódio não apenas expande o universo da saga, mas também provoca reflexões sobre nossa própria trajetória como sociedade e as possíveis direções que poderemos seguir.

A figura central da revolução primata, César, testemunhou a transformação da humanidade, tornando-se o líder supremo de um mundo redefinido por um vírus de origem humana. Enquanto os humanos sofrem com a degeneração de sua espécie, os macacos consolidam seu domínio, unindo intelecto e força. O roteiro de Josh Friedman, Rick Jaffa e Amanda Silver não revisita diretamente o César vivido por Andy Serkis em “Planeta dos Macacos: A Origem” (2011), mas resgata sua influência ao posicionar a história em um ponto de reinício que interessa a Ball.

Com experiência na condução da saga “Maze Runner” (2014-2018), o cineasta imprime sua marca ao recriar um ambiente de caos organizado, envolto em um requinte sombrio que se esconde sob paisagens visualmente deslumbrantes. A cena inicial, em que Noa, Anaya e Soona, jovens integrantes do Clã da Águia, escalam uma árvore monumental, sintetiza essa dualidade. A era de César chegou ao fim, como já indicava “Planeta dos Macacos: A Guerra” (2017), dirigido por Matt Reeves, e como Pierre Boulle (1912-1994) insinuava no romance original de 1963. Noa, determinado a cumprir um antigo ritual, arrisca-se para resgatar um ovo de águia, sem saber que seu destino está prestes a mudar drasticamente ao cruzar o caminho dos últimos humanos sobreviventes.

Mae e Trevathan, dois representantes do que restou da humanidade, são um lembrete do declínio da civilização humana e dos desafios que se avizinham. O trio de primatas, interpretado por Owen Teague, Travis Jeffery e Lydia Peckham, vê-se forçado a lutar por sua posição num mundo onde novas ameaças emergem. Proximus, o primata que usurpa o legado de César, encarnado por Kevin Durand, impõe-se como uma força dominante. Já Freya Allan e William H. Macy interpretam figuras dúbias, capazes tanto de ajudar Noa, Anaya e Soona quanto de precipitar o colapso definitivo da sociedade dos macacos. A narrativa, permeada por uma alegoria sofisticada sobre o declínio do pacifismo, prepara o terreno para um embate que pode encontrar seu desfecho em 2027, quando a franquia possivelmente encerrará seu mais recente arco.

Filme: Planeta dos Macacos: O Reinado
Diretor: Wes Ball
Ano: 2024
Gênero: Ação/Ficção Científica
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★