Fenômeno absoluto: filme visto por 42 milhões na semana de estreia se torna um dos mais assistidos da história da Netflix em tempo recorde Divulgação / Netflix

Fenômeno absoluto: filme visto por 42 milhões na semana de estreia se torna um dos mais assistidos da história da Netflix em tempo recorde

A ambição de “Bagagem de Risco” parece ser clara desde o início: estabelecer-se como um concorrente direto de “Missão: Impossível” (1996-2023). A própria escolha do nome do protagonista, Ethan Kopek, não é mera coincidência, sugerindo um parentesco conceitual com Ethan Hunt. No entanto, enquanto o icônico agente interpretado por Tom Cruise se mantém como um pilar do cinema de ação, carregando consigo carisma, destreza e uma resiliência quase sobre-humana, Kopek não exibe a mesma desenvoltura. Seu trajeto, longe de evocar a grandiosidade das missões impossíveis, lembra mais a sensação de estar perdido em uma avenida sem fim, à mercê da escuridão e do silêncio de uma madrugada vazia. Ou, para adotar uma metáfora mais condizente com o enredo, um voo em meio a uma tempestade, onde os instrumentos são a única esperança de navegação segura.

Se Ethan Hunt consolidou-se como um dos anti-heróis mais duradouros do cinema, superando três décadas de façanhas que incluem escaladas vertiginosas, saltos suicidas e uma infinidade de acrobacias aéreas, tudo sustentado por produções de orçamento colossal que extrapolam a marca das centenas de milhões de dólares, o Ethan de Jaume Collet-Serra parece à beira do colapso. Sua jornada não transmite a segurança de quem domina o caos; ao contrário, há uma sensação constante de que ele pode desabar a qualquer instante, esmagado pelo peso de uma situação que ultrapassa seus limites.

A estrutura dos thrillers de ação sempre se equilibra entre tensão extrema e uma crítica subjacente sobre a condição humana. Por trás dos confrontos eletrizantes, das perseguições de tirar o fôlego e dos tiroteios incessantes, há uma reflexão velada sobre o esvaziamento da vida cotidiana. Em meio ao espetáculo de adrenalina, esses filmes sugerem que, ao longo dos anos, trocamos o prazer genuíno pela aceitação resignada da ansiedade permanente. Kopek, um agente ainda em fase de treinamento na TSA, a agência encarregada da segurança nos sistemas de transporte dos Estados Unidos, se vê enredado em uma trama que escapa ao seu controle. O agente inexperiente torna-se alvo de um passageiro enigmático que o manipula, ameaça e o conduz a uma escolha insustentável: permitir o embarque de uma carga suspeita na véspera de Natal.

Os roteiristas T.J. Fixman e Michael Green transformam o que poderia ser um cenário trivial — um aeroporto lotado durante um feriado — em um verdadeiro campo de batalha, onde cada detalhe é tratado como um prenúncio do caos iminente. No entanto, por mais que a premissa contenha elementos promissores, a execução se desenrola de forma irregular. Taron Egerton e Jason Bateman, ambos talentosos e versáteis, se esforçam para preencher as lacunas do roteiro, mas o resultado final mantém a mesma sensação incômoda de uma viagem longa demais, onde a única distração é uma criança inquieta que insiste em chutar o seu assento.

Filme: Bagagem de Risco
Diretor: Jaume Collet-Serra
Ano: 2024
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★