Com Miles Teller e Anya Taylor-Joy, thriller de ação e mistério é o mais visto do mundo no momento na Apple TV+ Divulgação / Apple TV+

Com Miles Teller e Anya Taylor-Joy, thriller de ação e mistério é o mais visto do mundo no momento na Apple TV+

Não podemos esperar que nossos atores favoritos sempre escolham papéis em filmes inteligentes, substanciais e artísticos. Há momentos em que eles precisam abraçar o lado comercial da indústria, atendendo aos desejos de um público que busca mais entretenimento do que reflexão profunda. Se a voz do povo é a voz de Deus, a Apple TV+ soube responder com “Entre Montanhas”, atingindo o ápice da audiência ao entregar exatamente o que os espectadores ansiavam. O filme começa com uma atmosfera de ação e espionagem, mas logo se transforma em um mistério repleto de zumbis, eletricamente eletrizante, criando uma narrativa envolvente e imprevisível.

Miles Teller interpreta Levi, um atirador de elite dos Estados Unidos, recrutado por uma agência secreta para realizar uma missão de alto risco e sigilo. A tensão do emprego logo se manifesta em um detalhe: na entrevista para o cargo, uma das perguntas cruciais é sobre suas conexões pessoais, ou seja, se ele tem alguém que poderia sentir sua falta ou procurá-lo caso desaparecesse. Levi, totalmente desapegado de qualquer laço emocional, parece o candidato perfeito. Ele é transportado por um avião militar até uma torre isolada, situada na beira de um penhasco, em uma localização tão secreta que sua existência é quase desconhecida.

A partir desse ponto, Levi se vê em uma situação semelhante à de um faroleiro solitário ou a de um sentinela vigiando uma fronteira invisível. Durante um ano, ele é encarregado de tarefas rotineiras, aparentemente triviais, mas que possuem alguma função crucial para a segurança da humanidade. O mistério, no entanto, demora um pouco a se revelar: cerca de 40 minutos de filme depois, vemos uma invasão inesperada. Criaturas zumbióticas começam a escalar o desfiladeiro, e a missão de Levi se torna clara: ele deve impedi-las de ultrapassar os limites da torre e sair do abismo.

Mas Levi não está sozinho. Do outro lado do penhasco, há uma outra torre, onde Drasa, interpretada por Anya Taylor-Joy, também uma sniper de elite e filha de um ex-agente da KGB, desempenha a mesma função. Ela deve atirar em qualquer ser que se mova dentro da cratera coberta de névoa. Uma das regras mais estritas da missão é que eles não devem se comunicar entre si. No entanto, como em qualquer história, as regras estão ali para serem quebradas. Não demora para que os dois encontrem uma forma de se conhecer pessoalmente.

Levi cria uma tirolesa improvisada que o transporta até a torre de Drasa. A conexão entre eles é instantânea, como se seus passados de desapego caíssem por terra. Unidos pela paixão pela profissão e pelo perigo que ela acarreta, rapidamente desenvolvem um vínculo profundo. Eles se apaixonam, mas como em toda trama envolta em mistério e suspense, a tensão aumenta quando a tirolesa de Levi quebra, e ele é lançado abismo abaixo. Drasa, sem hesitar, se joga em busca dele.

A sequência de cenas que surge em seguida é uma mistura inusitada de referências cinematográficas, algo que lembra o suspense de “Alien — O Oitavo Passageiro” com a tensão de “The Last of Us”. O tom de mistério também evoca o clima de “Stranger Things” e “Game of Thrones”, com uma pitada de terror. Criaturas fantasmagóricas e mortas-vivas, infestadas por fungos que se espalham em colmeias gosmentas dentro de cavernas, geram uma sensação de pavor que fica no ar por todo o filme.

À medida que a trama se desenvolve, o espectador descobre que, nos anos 1940, experimentos científicos fugiram do controle, contaminando humanos e criando essas criaturas monstruosas, que representam uma ameaça não só para a humanidade, mas para a existência de toda a vida na Terra. No entanto, o maior perigo não são apenas essas criaturas. O governo também representa uma ameaça, determinado a eliminar Levi e Drasa por saberem demais sobre os segredos que estão enterrados naquele cenário sombrio.

O filme mistura gêneros de forma habilidosa, trazendo elementos de romance, ação, ficção científica e mistério. Esse apanhado de estilos cria um thriller comercial que, embora não seja um grande marco artístico, consegue cumprir o que se propõe: entreter. Além disso, as atuações de Teller, Taylor-Joy e Sigourney Weaver (que interpreta a recruta responsável pela missão) são um destaque. O elenco faz um trabalho sólido, trazendo profundidade e emoção a personagens que, em outras mãos, poderiam ter se perdido na banalidade do enredo.

“Entre Montanhas” não reinventa o gênero, mas com suas reviravoltas, tensão constante e atuações convincentes, oferece uma experiência cinematográfica de entretenimento puro, agradando a quem busca uma trama cheia de ação, mistério e, claro, uma boa dose de romance. O filme faz o que foi projetado para fazer: divertir. E nesse caso, não há problema algum em se render ao desejo do público por um entretenimento que, embora não se proponha a ser um grande feito artístico, ainda é capaz de proporcionar uma experiência satisfatória e instigante.

Filme: Entre Montanhas
Diretor: Scott Derrickson
Ano: 2025
Gênero: Ação/Ficção Científica/Thriller
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.