Com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, série mais viciante que café é o fenômeno do momento, na Apple TV+ Divulgação / Apple TV+

Com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, série mais viciante que café é o fenômeno do momento, na Apple TV+

Criada por Dan Erickson, “Ruptura” estreou em 2022 na Apple TV+ e rapidamente se consolidou como uma das produções mais aclamadas da plataforma. Atualmente em sua segunda temporada, a série é produzida por Ben Stiller, que também dirige a maioria dos episódios. Com dois Primetime Emmys no currículo, ocupa a 95ª posição no ranking das melhores séries do IMDb, ostentando uma nota 8,7 e impressionantes 97% de aprovação crítica no Rotten Tomatoes.

Considerada uma das narrativas mais envolventes e provocativas da atualidade, “Ruptura” combina ficção científica, drama e thriller psicológico em uma trama surrealista e distópica. O impacto da série vai além do roteiro engenhoso: a fotografia minimalista e brutalista, aliada a uma estética simétrica e retrô-futurista, amplifica a sensação de estranheza e isolamento, transportando o espectador para um universo onde a lógica corporativa beira o absurdo e o controle se impõe de maneira opressiva.

A trama segue Mark S. (Adam Scott), gerente do departamento de Refinamento de Dados da Lumon Industries, que se submete voluntariamente a um procedimento neurológico chamado “ruptura”. A técnica separa sua consciência em duas identidades distintas: uma para o trabalho e outra para a vida pessoal. O “interno” — versão de Mark dentro da empresa — não tem qualquer memória de sua vida fora dali. Da mesma forma, seu “externo” desconhece completamente suas atividades profissionais, vivendo sem qualquer lembrança do que acontece durante o expediente.

A premissa inicial pode parecer tentadora. Afinal, quem nunca desejou se desligar dos problemas pessoais no ambiente de trabalho para se tornar mais produtivo? E se fosse possível eliminar o estresse da rotina profissional ao sair do escritório, garantindo uma mente mais leve e descansada? Mas “Ruptura” logo desconstrói essa ilusão, expondo os perigos desse experimento e suas implicações morais e filosóficas. Fotografias perfeitamente simétricas podem constantemente ser divididas em duas metades, uma alegoria à ruptura de seus personagens. 

A Lumon Industries esconde segredos obscuros por trás do procedimento, e a real finalidade do Refinamento de Dados permanece um mistério. Mark e seus colegas de setor — Helly R. (Britt Lower), Dylan (Zach Cherry) e Irving (John Turturro) — passam os dias sentados diante de computadores caixotes, analisando blocos e números sem lógica aparente. Cada decisão que tomam parece ser guiada por uma intuição nebulosa, enquanto obedecem às diretrizes rígidas de Milchick (Tramell Tillman) e da impiedosa chefe Harmony Cobel (Patricia Arquette).

A rotina metódica e opressiva da Lumon esconde algo muito maior. O externo de Mark recebe uma visita inesperada de um ex-colega de trabalho, supostamente demitido, que tenta alertá-lo sobre segredos perturbadores da empresa. No entanto, antes que possa revelar qualquer coisa, ele morre em circunstâncias misteriosas. Dentro da Lumon, a principal força de resistência surge em Helly R., uma funcionária que se recusa a aceitar a imposição da “ruptura” e desafia as regras da corporação. Sua rebeldia incita os demais a questionarem a realidade ao seu redor e a buscarem respostas para o que há além dos corredores claros e das portas proibidas daquele ambiente surreal e labiríntico.

A cada episódio, a tensão cresce, levando a um desfecho de temporada arrebatador. A segunda temporada, ainda em andamento na Apple TV+, continua a expandir os mistérios da Lumon, lançando novos enigmas a cada capítulo e deixando o público cada vez mais intrigado.

Mais do que um thriller viciante, “Ruptura” é uma reflexão profunda sobre identidade, livre-arbítrio, saúde mental e os limites éticos do controle corporativo. Ao explorar o trabalho não apenas como fonte de sustento, mas como um meio de fuga da dor e do sofrimento, a série levanta uma pergunta inquietante: até onde estaríamos dispostos a ir para escapar da realidade?

Filme: Ruptura
Diretor: Dan Erickson
Ano: 2022
Gênero: Drama/Ficção Científica/Mistério
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.