O filme mais visto da atualidade: 15 milhões de pessoas não teriam assistido a esse sucesso da Netflix na primeira semana se ele não fosse encantador Giulia Parmigiani / Netflix

O filme mais visto da atualidade: 15 milhões de pessoas não teriam assistido a esse sucesso da Netflix na primeira semana se ele não fosse encantador

Às vezes é necessário ir para muito longe a fim de se sentir em casa. Muitas vezes, grandes problemas podem ser resolvidos com pequenas viagens, ainda que ninguém garanta que novas questões e ainda mais absorventes que as anteriores não surjam, exigindo soluções definitivas que, talvez, nem façam mais tanto sentido. Nada é tão terapêutico para alguém que atravessa uma daquelas aniquiladoras crises existenciais da juventude que pensar nas mil esperanças que lugares como a Itália rural guardam, e “La Dolce Villa” revela-se uma história cheia de lances tensos, apesar de  amaciados pela paisagem e pela condução quase farsesca. Com tarimba de sobra nesse departamento, Mark Waters faz de “La Dolce Villa” outro agradável passeio pelos tão humanos desejos e contradições, indo de prosaicas brigas intergeracionais às perguntas que vira e mexe tiram o juízo de gente de qualquer idade, porque escondem muitas outras dúvidas — e bem mais incômodas.

Olivia, uma ítalo-americana de 24 anos, decide mudar-se para Montezara, uma cidadezinha pacata sofrendo com o êxodo de jovens que partem para Roma ou Milão, e pródiga em casarões em ruínas anunciados pela prefeitura por um euro. Depois de alguns dias de procura, ela opta pela propriedade que fora de um tal Mario Rabugento, e que esconde tesouros da arquitetura e da arte renascentista e barroca por baixo de puxadinhos e demãos de cal, o que, claro, vai demandar-lhe uma pequena fortuna na reforma. 

Como por encanto, o ex-chef e agora restauranteur Eric, seu pai, chega de Columbus, Ohio, atrás dela e aí o roteiro de Hilary Galanoy e Elizabeth Hackett passa a mirar as tantas instabilidades da relação dos dois, juntando ao eixo da narrativa tipos secundários que ajudam a segurar o público. Francesca, a prefeita de Montezara, parece a mais empolgada com a chegada de Olivia, primeiro porque sua administração depende do sucesso do plano dos imóveis a um euro; aos poucos, a alcaidessa interpretada por Violante Placido acaba por se render à garra da nova moradora e ao charme do pai dela, enquanto Waters cava situações para que Olivia e Eric tenham a chance de se acertar.

“La Dolce Villa” tenta sair da fórmula e reserva boas surpresa no terço final. A despeito da inconstância de Olivia, que a certa altura dá a entender que quer mesmo é assumir uma vaga de designer numa grife milanesa, o diretor ganha por pontos ao registrar as figuras que povoam o cenário como se sempre tivessem estado ali, prontas para receber os forasteiros e a plateia. 

As Antonias, um trio de nonni que passam o dia tomando a fresca junto ao chafariz da praça central, ganham destaque frente à insipidez dos protagonistas, e é difícil saber quem é a mais adorável, se a inicialmente enfezada, de Nunzia Schiano, a inicialmente distante, de Luisa De Santis, ou a sempre gentil, de Lucia Ricalzone. Como se passa com seus personagens, a química entre Maia Reficco e Scott Foley balança conforme esgotam-se os clichês, sobrando ao fim o gosto de pizza amanhecida que nem uma brevíssima menção a “A Doce Vida” (1960), a obra-prima de Federico Fellini (1920-1993), numa sequência meio nonsense, consegue aplacar.

Filme: La Dolce Villa 
Diretor: Mark Waters
Ano: 2025
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.