Indicado a 7 Oscars e considerado um dos 10 maiores filmes da história do cinema, a obra-prima de Morgan Freeman está na Max Divulgação / Warner Bros.

Indicado a 7 Oscars e considerado um dos 10 maiores filmes da história do cinema, a obra-prima de Morgan Freeman está na Max

A longevidade de uma narrativa muitas vezes é a verdadeira medida de sua relevância. Algumas histórias se dissipam com o tempo, enquanto outras permanecem tão vívidas quanto no dia em que foram contadas pela primeira vez. “Um Sonho de Liberdade” (1994) pertence à segunda categoria. Seu impacto não se esgotou com o passar dos anos, e o público segue reencontrando na trama razões para se comover, refletir e admirar.

Curiosamente, a recepção inicial do filme não foi calorosa. O trabalho de Frank Darabont entrou para o seleto grupo de produções que só se impuseram depois de atravessar um período de desconfiança. O diretor, até então um novato em longas-metragens, não carregava os vícios de cineastas estabelecidos e, por isso, pôde encarar o projeto com frescor e ambição. Extraindo sua história do conto “Primavera Eterna — Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”, publicado em “Quatro Estações” (1982), de Stephen King, Darabont se afastou da mesmice que assolava Hollywood, especialmente nas abordagens do suspense. Em vez de apenas retratar a perda da liberdade, como fizeram clássicos como “Alcatraz — Fuga Impossível” (1979) e “Papillon” (1973), a obra de Darabont se interessa por algo mais profundo: o impacto da prisão sobre a identidade e a resiliência de um homem condenado injustamente.

Andy Dufresne encarna a resistência diante da brutalidade de um sistema que o priva de tudo, menos da própria dignidade. Ex-banqueiro, condenado pelo assassinato da esposa e do amante dela, chega a Shawshank não apenas como um preso qualquer, mas como um alvo. No universo carcerário, certos crimes carregam um peso moral ambíguo: um assassino confesso pode conquistar respeito, mas um homem que nega sua culpa é tratado com desprezo.

A recusa de Dufresne em se curvar ao ambiente hostil que o cerca o transforma em presa fácil para as violências cotidianas da cadeia. A integridade que tenta preservar é também seu maior fardo, pois a recusa em se tornar parte do sistema o torna vulnerável a suas engrenagens mais cruéis. Seu caminho se desenrola como uma batalha silenciosa contra a degradação do espírito, um embate entre a identidade que ele luta para preservar e a brutalidade que ameaça consumi-lo.

A jornada de Dufresne remete a dilemas filosóficos que atravessam os séculos. São Tomás de Aquino já afirmava que a honra é indissociável da felicidade, pois sem integridade não há parâmetro real para distinguir o certo do errado. A felicidade do protagonista não está na fuga ou na simples sobrevivência, mas no reconhecimento de sua dignidade, algo que encontra no vínculo com Red, um veterano da prisão que se torna seu único aliado.

Red, por sua vez, encara o sistema de dentro, aceitando suas engrenagens enquanto sobrevive por meio do contrabando. Entre os dois se estabelece uma relação de necessidade mútua: enquanto Red encontra em Andy uma possibilidade de redenção, Andy se apoia em Red para não ser engolido pela desesperança. A inversão dos papéis é notável: Red, o narrador, ganha status de herói, enquanto Andy assume o peso do martírio, mantendo-se à margem da estrutura que os cerca.

O confinamento em Shawshank não é apenas uma metáfora para a prisão literal, mas também para os limites que a vida impõe. Darabont explora esse conceito com sensibilidade, mostrando como a dureza do mundo muitas vezes exige concessões que ferem a própria essência do indivíduo. Nem todos aceitam se submeter. “Um Sonho de Liberdade” não trata apenas de escapar fisicamente das grades, mas de compreender que a verdadeira libertação acontece antes mesmo de elas serem transpostas.

Filme: Um Sonho de Liberdade
Diretor: Frank Darabont
Ano: 1994
Gênero: Drama/Épico
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★