Remake de filme considerado uma das melhores comédias de todos os tempos, com Zoe Saldaña e Martin Lawrence, está na Netflix Divulgação / Screen Gems

Remake de filme considerado uma das melhores comédias de todos os tempos, com Zoe Saldaña e Martin Lawrence, está na Netflix

Refilmar um longa que já alcançou excelência pouco tempo antes sempre levanta um questionamento inevitável: por que refazer algo que ainda não teve tempo de se tornar obsoleto? Essa dúvida paira sobre “Morte no Funeral” (2010), de Neil LaBute, um remake quase idêntico da versão britânica de Frank Oz, lançada apenas três anos antes. Enquanto o original foi celebrado por público e crítica, a releitura americana não teve a mesma sorte. O que explica essa disparidade tão evidente?

A prática de reciclar sucessos internacionais ou produções independentes já consolidadas é recorrente em Hollywood, mas nem sempre a adaptação consegue justificar sua própria existência. No caso específico de “Morte no Funeral”, a escolha de refazer um filme que já havia funcionado com precisão milimétrica se mostrou questionável desde o início. Até mesmo Peter Dinklage, que interpretou um papel crucial na versão britânica, foi escalado para repeti-lo na nova versão. Uma decisão que, em vez de trazer frescor, apenas reforçou a sensação de redundância.

O grande diferencial da produção de LaBute é o elenco majoritariamente negro, recheado de estrelas de peso como Chris Rock, Martin Lawrence, Regina Hall, Kevin Hart, Zoe Saldana, Tracy Morgan e Danny Glover. No entanto, mesmo com um time tão talentoso, a versão americana não conseguiu imprimir identidade própria. O filme se desenrola sem grandes surpresas, com os atores entregando performances burocráticas, como se estivessem apenas cumprindo tabela, sem a naturalidade e o encaixe perfeito do elenco britânico. A comicidade, que no original se apoia no humor tipicamente britânico, seco e incômodo, na versão americana ganha um tom mais escrachado e acessível, o que a torna mais popular, mas menos refinada.

A trama acompanha o funeral de um patriarca de família, onde seus filhos, Aaron (Chris Rock) e Ryan (Martin Lawrence), tentam manter a cerimônia sob controle. No entanto, uma série de eventos bizarros ameaça transformar a ocasião em um espetáculo caótico. Um dos destaques é Oscar (James Marsden), noivo de Elaine, que, após ingerir acidentalmente uma substância alucinógena, protagoniza momentos constrangedores e surreais. Além disso, Frank (Peter Dinklage), amante secreto do falecido, surge exigindo uma quantia de 30 mil dólares para não expor a relação do patriarca por meio de fotografias comprometedoras.

O fio condutor da comédia é o embaraço causado por situações absurdas em meio a um evento tradicionalmente solene. Entretanto, ao contrário da versão original, onde o humor se constrói com um timing impecável e uma abordagem mais contida, o remake aposta em um ritmo mais acelerado e exagerado. Essa mudança de tom torna o filme mais palatável para o público americano, mas também dilui o impacto das piadas e enfraquece o contraste entre o ridículo da situação e a seriedade do contexto fúnebre.

Refazer um filme tão recente sem oferecer elementos realmente inovadores é sempre um risco. “Morte no Funeral” (2010) acaba sendo um exemplo clássico de um remake que não justifica sua existência, uma versão que, embora conte com um elenco impressionante, não consegue capturar a mesma harmonia e brilhantismo do original. No fim das contas, o público recebeu apenas uma reprodução menos inspirada de algo que já funcionava perfeitamente, o que inevitavelmente levou à sua recepção morna e ao questionamento inevitável: era realmente necessário?

Filme: Morte no Funeral
Diretor: Neil LaBute
Ano: 2010
Gênero: Comédia
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.