A nova investida da Netflix no território das comédias românticas, “La Dolce Villa”, tenta envolver o espectador com uma mistura de paisagens idílicas, romance e um enredo de renovação pessoal. No entanto, o encanto prometido se dissipa rapidamente, deixando uma narrativa sem vigor emocional. Sob a direção de Mark Waters, responsável pelo desastroso “Mãe da Noiva”, o longa se esforça para capturar a sedução do cenário italiano, mas se limita a uma estética impecável sem substância. Ao contrário de produções como “Sob o Sol da Toscana”, que transformam cada elemento em um convite à imersão sensorial, “La Dolce Villa” se acomoda em sua superficialidade e se assemelha mais a um comercial de turismo do que a uma história envolvente.
O enredo gira em torno de Eric (Scott Foley), um viúvo que parte para a Itália ao descobrir que sua filha, Liv (Maia Reficco), decidiu investir sua herança na compra de uma vila decadente por meio de um programa de incentivo do governo. A princípio, a trama sugere um embate emocional carregado de conflitos familiares, mas logo se dilui em um roteiro previsível, onde as tensões se resolvem sem esforço. Eric, quase sem resistência, aceita a nova realidade e se vê envolvido com Francesca (Violante Placido), prefeita da cidade. A conexão entre pai e filha, que poderia ser o cerne dramático da história, é reduzida a diálogos mecânicos, tornando a jornada de reconciliação um detalhe irrelevante dentro da narrativa.
A maior fragilidade do filme está na incapacidade de despertar emoções autênticas. Enquanto “Sob o Sol da Toscana” convidava o público a sentir o aroma das oliveiras e a textura das paredes rústicas, “La Dolce Villa” apenas desfila cenários impecavelmente fotografados sem transmitir qualquer essência. Apesar das belas imagens captadas na Toscana e no Lácio, a fotografia excessivamente filtrada e os enquadramentos artificiais dão ao filme um aspecto artificial, onde a estética se sobrepõe à experiência sensorial. Em vez de explorar a cultura local de maneira genuína, a obra limita a Itália a um fundo decorativo, esvaziado de significado.
A superficialidade também se reflete nos personagens. Liv, que poderia representar uma jovem determinada e em busca de propósito, surge sem ambições claras além de simplesmente estar na Itália. Seu desenvolvimento se resume a um estágio conquistado sem dificuldades notáveis e a um romance apático com Giovanni (Giuseppe Futia), um chef cuja presença no roteiro parece ter sido inserida apenas para preencher a lacuna do interesse amoroso. A relação com o pai, que deveria ser o coração da história, carece de conflitos convincentes, tornando a evolução emocional dos dois inexpressiva e previsível.
A relação entre Eric e Francesca tampouco escapa da falta de profundidade. O casal divide cenas que funcionam mais como encenações programadas do que como interações espontâneas. A filosofia italiana do “dolce far niente” — o prazer de não fazer nada — é mencionada, mas nunca integrada ao desenvolvimento dos personagens. Em vez de explorar uma jornada de transformação autêntica, o filme limita a resolução de problemas a uma administração eficiente: basta transformar a vila em um empreendimento culinário e revitalizar a economia local para que tudo se encaixe.
Se há algo que o longa consegue entregar, é uma distração despretensiosa para quem busca um entretenimento leve e passageiro. A narrativa avança rapidamente, sem espaço para aprofundamento ou construção emocional mais rica. Para um público que não se preocupa com nuances e deseja apenas um romance ambientado em um cenário encantador, “La Dolce Villa” pode até cumprir seu papel. Entretanto, sua desconexão com qualquer senso de autenticidade impede que deixe uma impressão duradoura. No fim, trata-se de um filme que se consome sem resquícios, bonito aos olhos, mas vazio de significado.
★★★★★★★★★★