Criada por Abi Morgan e protagonizada por Benedict Cumberbatch, Gabby Hoffmann e Dan Fogler, “Eric” mergulha em temas densos como violência doméstica, corrupção policial, homofobia e abuso infantil. A trama se desenrola na Nova York dos anos 1980 e parte do desaparecimento de Edgar (Ivan Morris Howe), um menino de nove anos. No entanto, o mistério não reside na incerteza sobre seu paradeiro ou sobrevivência, pois essas questões se resolvem rapidamente. O verdadeiro foco recai sobre a teia de violência e criminalidade que permeia o caso.
Edgar é filho de Vincent (Cumberbatch), um renomado criador de programas infantis que alcançou sucesso com um show de marionetes no estilo de “Vila Sésamo”. Apesar do prestígio profissional, sua vida pessoal é marcada por turbulências. Esquizofrênico, alcoólatra e narcisista, Vincent enfrenta dificuldades para lidar com suas próprias falhas e tenta, sem grande sucesso, evitar repetir os padrões abusivos de seu pai emocionalmente distante. Ele vive com sua esposa, Cassie (Hoffmann), e o filho, mas o lar é um campo de batalha de discussões constantes e explosivas. O ambiente hostil aterroriza Edgar, que encontra refúgio em sua imaginação ao criar Eric, um monstro azul de dois metros de altura, que personifica suas emoções mais profundas.
O desaparecimento de Edgar acontece após Vincent negligenciar a responsabilidade de levá-lo à escola. O menino decide ir sozinho e some no caminho. O impacto da ausência do filho agrava ainda mais o estado psicológico do pai, intensificando seus episódios de esquizofrenia e dependência do álcool. No meio desse colapso mental, Eric, a criatura imaginária de Edgar, passa a se manifestar para Vincent, conduzindo-o por uma jornada que oscila entre a realidade e o delírio. Entretanto, longe de ser um auxílio concreto, essa projeção amplifica sua instabilidade. Em meio ao caos, Cassie, grávida e envolvida em um relacionamento extraconjugal, expulsa Vincent de casa e tenta reconstruir sua vida longe dele.
Paralelamente, a narrativa acompanha o detetive Michael Ledroit (McKinley Belcher III), um policial negro e gay que lida com o racismo estrutural dentro da corporação e teme que sua orientação sexual comprometa sua carreira. Enquanto investiga o caso de Edgar, Ledroit se depara com um problema ainda maior: na violenta Nova York da época, o desaparecimento de crianças negras e marginalizadas ocorre sistematicamente, mas não recebe a mesma atenção midiática ou policial destinada a um garoto branco e de classe média como Edgar. Marlon Rochelle é um dos muitos que somem sem deixar vestígios, sem que a sociedade pare para notar.
À medida que a trama avança, Ledroit descobre uma rede de crimes e negligência que revela camadas ainda mais profundas da desigualdade social e da impunidade que atravessam a cidade. “Eric”, disponível na Netflix, vai além da premissa inicial e se aprofunda em questões estruturais complexas, utilizando o desaparecimento de um garoto como ponto de partida para expor a face sombria da sociedade. Com um enredo denso e atuações intensas, a série não apenas mantém a tensão narrativa, mas também provoca reflexões sobre injustiças sistemáticas frequentemente ignoradas.
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