Um sniper letal, uma missão impossível e um filme que não te deixará sair ileso — assista agora no Prime Video Keith Bernstein / Warner Bros. Entertainment

Um sniper letal, uma missão impossível e um filme que não te deixará sair ileso — assista agora no Prime Video

O cinema de Clint Eastwood sempre orbitou temas como violência, justiça e os dilemas morais inerentes ao uso da força. Desde “Os Imperdoáveis”, passando por “A Conquista da Honra”, sua filmografia desafia simplificações, explorando personagens que habitam zonas cinzentas entre heroísmo e trauma. Em “Sniper Americano”, Eastwood volta a esse território ao retratar a vida de Chris Kyle, atirador de elite da Marinha dos EUA, cujas 160 mortes confirmadas no Iraque o tornaram a maior lenda entre os snipers do país. Baseado na autobiografia de Kyle e roteirizado por Jason Hall, o filme se afasta da glorificação tradicional para examinar, com rigor e intensidade, o preço psicológico da guerra e as consequências de uma vida definida pelo combate.

A atuação de Bradley Cooper é o pilar central da narrativa. Muito além da transformação física — o ator ganhou 18 quilos de músculo para o papel — sua interpretação capta a dualidade de Kyle com profundidade rara. O filme se abre com uma decisão impossível: do alto de um prédio em Fallujah, Kyle mira uma mulher e uma criança que podem — ou não — estar carregando uma granada. A hesitação pode custar a vida de soldados americanos; o disparo pode significar a morte de inocentes. Eastwood coloca o espectador exatamente no mesmo dilema do protagonista, estabelecendo um tom tenso e implacável que se mantém ao longo de toda a projeção. O ápice dessa brutalidade ocorre quando Kyle recebe a missão de eliminar O Açougueiro, um terrorista da Al-Qaeda conhecido por usar ferramentas elétricas para torturar suas vítimas. Cada decisão é definitiva, e o filme não oferece alívio.

Essa ausência de refúgio se reflete na vida doméstica de Kyle. Quando volta para casa entre as missões, ele tenta reassumir o papel de marido e pai ao lado de Taya (Sienna Miller), mas há um muro invisível entre ele e sua família. Se no campo de batalha a lente do rifle oferece foco absoluto, em casa tudo é difuso e desconectado. Miller entrega uma atuação forte e determinada, recusando-se a ser apenas a esposa que aguarda em silêncio. Ela acredita na missão do marido, mas não aceita vê-lo se perder nela. Seu papel é essencial para puxá-lo de volta a uma vida que ele já não reconhece.

Eastwood dirige com precisão cirúrgica. “Sniper Americano” não se rende a discursos fáceis — nem de exaltação cega, nem de condenação pura e simples. O espectador não recebe respostas prontas, mas é forçado a confrontar as complexidades do que vê. Em comparação com filmes como “Guerra ao Terror”, que examina a adrenalina viciante do campo de batalha, Eastwood opta por um olhar mais introspectivo, mostrando não apenas os feitos de Kyle, mas o preço que eles cobram.

Há algo de profundamente cruel no destino de Kyle — tanto na tela quanto fora dela. Alguns soldados conseguem deixar a guerra para trás. Outros nunca a abandonam. E Eastwood deixa claro que, para muitos, a batalha continua mesmo depois do último tiro.

Filme: Sniper Americano
Diretor: Clint Eastwood
Ano: 2014
Gênero: Ação/Biografia/Drama/Guerra
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★