Em 1993, “Jurassic Park” revolucionou o cinema ao unir tecnologia inovadora e uma narrativa de ficção científica que atravessou gerações. Sob a condução de Steven Spielberg, o filme estabeleceu um legado inquestionável, consolidando-se como um fenômeno cultural. Mais de duas décadas depois, o desafio de manter essa chama acesa coube ao espanhol Juan Antonio Bayona, que, em “Jurassic World: Reino Ameaçado”, tenta equilibrar a nostalgia dos fãs com a necessidade de renovação. No entanto, a pergunta que paira no ar é inevitável: a fórmula ainda tem o mesmo impacto?
Para aqueles que esperam um sopro de inovação, o filme pode não ser a resposta. O roteiro revisita dilemas já conhecidos, como a ética da manipulação genética e os perigos da exploração desenfreada, mas sem oferecer uma abordagem substancialmente nova. O embate entre ciência e responsabilidade ambiental é retomado, mas sem avanços que o tornem mais instigante. O longa resgata a grandiosidade de seus predecessores, mas deixa a sensação de que está preso ao passado, sem reinventar sua própria narrativa.
Escrito por Colin Trevorrow e Derek Connolly, o enredo se apoia em elementos familiares que ajudaram a construir o sucesso da franquia. A ação retorna à ilha Nublar, agora ameaçada por uma erupção iminente do vulcão monte Sibo. No centro da trama, uma expedição busca resgatar os dinossauros sobreviventes, misturando aventura, tensão e desdobramentos imprevisíveis. O prólogo, carregado de suspense, estabelece um cenário de instabilidade ao abordar o colapso financeiro da Masrani Corporation e as disputas políticas que moldam os eventos subsequentes. Além disso, o filme insere um debate ambiental que contrapõe interesses de ativistas e decisões governamentais.
Nesse contexto, rostos conhecidos retornam. Jeff Goldblum ressurge como Ian Malcolm, emprestando sua visão cética e filosófica à discussão sobre os riscos de desafiar as leis naturais. Chris Pratt e Bryce Dallas Howard retomam seus papéis como Owen Grady e Claire Dearing, agora envolvidos em uma missão arriscada para salvar os dinossauros da destruição iminente. Contudo, embora o filme tente capturar a atenção do espectador com novos desafios e sequências de ação eletrizantes, a conexão emocional e a essência que tornaram o original tão memorável acabam diluídas em meio a efeitos visuais exuberantes e reviravoltas previsíveis.
A direção de Bayona imprime um tom mais sombrio e carregado de tensão, utilizando a fotografia para construir um senso de perigo constante. Visualmente, o filme impressiona, evocando a grandiosidade e o mistério que sempre permearam a franquia. A trilha sonora de Michael Giacchino resgata temas icônicos, reforçando a nostalgia e a imersão na atmosfera de “Jurassic Park”. No entanto, a mensagem subjacente permanece a mesma: a coexistência com essas criaturas está longe de ser uma possibilidade viável. Bayona destaca, de maneira incisiva, que a humanidade persiste na ilusão de controle, subestimando forças que jamais poderá dominar.
Os dinossauros, mais do que figuras colossais do passado, funcionam como uma metáfora poderosa para as questões ambientais e éticas que moldam a atualidade. O filme entretém e evoca memórias, mas também serve como um alerta sobre o impacto humano no planeta. Entre cenas de ação e momentos de tensão, a narrativa sugere uma reflexão inquietante: até que ponto estamos dispostos a ignorar as consequências de nossas escolhas antes que seja tarde demais?
★★★★★★★★★★