O debate sobre a legalização das drogas ressurge ciclicamente, movimentando opiniões divergentes em diferentes esferas da sociedade. Entre argumentos pragmáticos e teorias alarmistas, o tema transita de conversas informais a discussões institucionais, para depois sumir com a mesma rapidez com que apareceu. A cannabis sativa, consumida há milênios, poderia ser varrida do mundo sem alterar significativamente o gênero de narrativas como a explorada em “Magnatas do Crime”.
A série de oito episódios se concentra nos bastidores de uma disputa familiar pelo controle de um império sustentado por atividades ilícitas. O ponto de partida é a sagacidade de um patriarca prestes a sucumbir, premissa que permite a Guy Ritchie expandir os eventos do filme de 2019. O diretor aposta em um spin-off para aprofundar conflitos e preencher espaços deixados pelo longa, mas reproduzir a anarquia estilizada que marcou a obra original revela-se um desafio ambicioso.
O protagonista, Eddie Horniman, leva uma vida tranquila como agente de fronteira até ser convocado para lidar com a morte iminente do pai bilionário. Ao chegar à mansão da família, ele se vê no epicentro de uma teia de problemas, incluindo as dívidas milionárias do irmão caçula, Freddy, com traficantes perigosos. Ritchie aproveita esse contexto para resgatar aspectos específicos do longa-metragem, conferindo à série um ritmo mais pausado e permitindo que suas subtramas se desenrolem de forma menos previsível.
Embora se proponha a retratar o submundo criminal britânico, “Magnatas do Crime” se fixa essencialmente nas idas e vindas de Eddie, que oscila entre tentar solucionar e aprofundar os problemas da própria família. Theo James interpreta com propriedade esse homem desorientado, cuja idealização da própria situação frequentemente entra em conflito com a dura realidade. Sua jornada é pontuada pela presença astuta de Susie Glass, personagem que funciona como sua consciência e última linha de defesa contra o caos iminente.
Kaya Scodelario agrega camadas à trama, sendo agraciada com um episódio inteiramente dedicado a sua personagem na segunda metade da temporada. Sua presença traz frescor e evita que a narrativa se torne um desfile de clichês sobre dinâmicas familiares problemáticas. No fim, a série se equilibra entre um thriller estilizado e um estudo sobre laços de sangue que podem ser mais perigosos do que qualquer organização criminosa.
★★★★★★★★★★