Viver numa cidade pequena como a fictícia Serenity, na Carolina do Sul, nem sempre é tão tranquilo, que o digam Dana Sue Sullivan, Helen Decatur e Maddie Townsend, as protagonistas de “Doces Magnólias”. O coração está onde se trabalha e, de preferência, se prospera, grita a voz cava das ruas, mas se fosse simples assim, haveria muito menos gente cheia de tanto rancor, de amargura, envenenada pelos sonhos gorados de tempos passados e mortos.
Fica cada vez mais difícil absorver as várias nuanças da sociedade do nosso tempo, ninguém parece verdadeiramente interessado em mudar nada, um hedonismo insano e quiçá criminoso adona-se das almas, relações que pareciam eternas somem na bruma corrosiva do avançar dos anos, e um pouco de tudo isso entra no texto caudaloso de Sheryl J. Anderson sobre um trio de amigas de meia-idade às voltas com divórcio, fracassos, revelações e novos começos, bem ao gosto da vida como ela é. Na quarta temporada da série, a chef, a advogada e a dona de casa interpretadas por Brooke Elliott, Heather Headley e JoAnna Garcia Swisher se dão conta de que os inimigos estão mais perto do que o desejável, grandes amores já tiveram sua chance e é mister pensar no amanhã como uma tela em branco, onde cabem todas as vontades sufocadas.
Dramas de família podem terminar de muitas formas — ou não terminar nunca. De todo modo, por mais íntimas que pareçam, escolhas nunca são individuais de todo, podem definir a vida de alguém para o bem ou para o mal e um dia, muito antes do que se pense e do que se queira, põem à mostra tudo o que esconderam ao longo dos anos. Ricos ou pobres, jovens ou velhos, up-to-date ou old school, todos estamos sujeitos às intempéries do amor.
Qual deve ser a fórmula que faz relacionamentos amorosos fortes o suficiente para superar toda sorte de conflito? Ainda que haja tal receita, alguém seria capaz de precisar o momento em que essa discordância abdica de sua suposta natureza colaboradora e passa a se constituir um elemento a mais quanto a minar a energia, a luz, o fogo, o sentimento mais profundo que fez duas pessoas arderem e de fato encantarem-se uma pela outra? “Doces Magnólias” não se obriga a responder essas perguntas e as deixa no ar, tornando à primeira temporada para situar o espectador casual acerca dos planos de Dana, Helen e Maddie quanto a abrir um SPA, ao passo que lidam com a força de uma nova (e um tanto incômoda) realidade — o que inclui o sexo oposto. Helen é quem alcança nesse departamento, e também por essa motivo Headley rouba a cena. O que fica mesmo desses novos dez episódios é a sensação de que a amizade entre as três mulheres transcende a necessidade da presença masculina. Ainda que às vezes faça falta um bom cobertor de orelha.
Série: Doces Magnólias
Criação: Sheryl J. Anderson
Ano: 2020-2025
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10