Com Carrie-Anne Moss e Kiefer Sutherland, superprodução épica de 100 milhões de dólares está na Netflix Divulgação / Lionsgate Entertainment

Com Carrie-Anne Moss e Kiefer Sutherland, superprodução épica de 100 milhões de dólares está na Netflix

Certos eventos históricos, por mais impactantes que tenham sido, frequentemente deslizam para as margens da memória coletiva, relegados ao esquecimento ou simplificados em narrativas superficiais. A escravidão, um dos capítulos mais sombrios da humanidade, persiste sob novas formas, adaptando-se ao curso dos tempos e às conveniências dos poderosos. Esse contexto de brutalidade e resistência serve de alicerce para “Pompeia”, filme dirigido por Paul W.S. Anderson, que transforma a catástrofe de 79 d.C. em um épico de sobrevivência e vingança, transcendendo o mero relato de uma cidade consumida pelo Vesúvio.

Com roteiro assinado por Janet Scott Batchler, Lee Batchler e Michael Robert Johnson, a trama se inicia com uma citação sombria de Plínio, o Jovem, cuja descrição da destruição ecoa como um presságio. O filme transporta o espectador para uma época marcada por trevas físicas e espirituais, onde os celtas, submetidos ao domínio romano, tentam sem sucesso se libertar da opressão. O protagonista, Milo, um guerreiro de habilidades ímpares, vê seu povo ser massacrado, mas escapa da morte apenas para ser condenado à escravidão e transportado para Pompeia, cidade que se tornaria seu palco final.

Nos momentos iniciais, Anderson intercala flashbacks da antiga liberdade de Milo com sua atual condição de cativo, enquanto introduz um romance entre ele e Cássia, filha do governante local, interpretado por Jared Harris. Emily Browning, no papel de Cássia, imprime ao filme uma presença marcante, especialmente à medida que a tragédia iminente se impõe. No entanto, a escolha do roteiro em utilizar a erupção vulcânica como um evento secundário, introduzido abruptamente, diminui seu potencial dramático e enfraquece sua função como elemento central da narrativa.

Por outro lado, o filme compensa essa falha ao investir na força das cenas de ação. As lutas na arena dos gladiadores são conduzidas com precisão e intensidade, destacando-se como um dos pontos altos da obra. A tensão se cristaliza na batalha entre Milo e Atticus, vivido por Adewale Akinnuoye-Agbaje, cuja dinâmica transcende a simples disputa pela sobrevivência e se transforma em um símbolo de resistência e honra. A violência, longe de ser gratuita, reforça a dualidade entre opressão e liberdade, conferindo camadas ao desenvolvimento dos personagens.

Embora “Pompeia” não explore integralmente o potencial de sua tragédia histórica, consegue equilibrar o drama pessoal de Milo com a grandiosidade do desastre iminente. Se por um lado falta profundidade à abordagem do evento catastrófico, por outro, a narrativa se sustenta na força de seus personagens e na atmosfera de inevitabilidade que permeia cada cena. No fim, o filme se firma como um espetáculo visual de ação e emoção, que, ainda que não revolucione o gênero, mantém o espectador envolvido até seu desfecho inevitável.

Filme: Pompeia
Diretor: Paul W.S. Anderson
Ano: 2014
Gênero: Ação/Aventura/Épico
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★