Proibido para cardíacos: thriller com Oscar Isaac e Ben Kingsley está na Netflix e vai te deixar sem respirar Divulgação / MGM

Proibido para cardíacos: thriller com Oscar Isaac e Ben Kingsley está na Netflix e vai te deixar sem respirar

Para Hannah Arendt (1906-1975), a disposição de indivíduos aparentemente comuns em obedecer ordens absurdas e contribuir para atrocidades históricas era um enigma que a instigava profundamente. Inspirando-se no roteiro de Matthew Orton, Chris Weitz transpõe para o cinema essa inquietação filosófica em “Operação Final” e explora novos desdobramentos de um dos episódios mais infames do século 20. A pensadora alemã, cuja obra mantém relevância inquestionável mesmo após quase cinco décadas de sua morte, dedicou-se a entender como um homem sem traços excepcionais ascendeu a uma posição central no maquinário genocida nazista. Para isso, acompanhou de perto o julgamento de Adolf Eichmann (1906-1962) em Jerusalém e concluiu que ele não era um monstro, mas um burocrata eficiente que apenas cumpria suas funções sem questioná-las.

O resultado dessa investigação foi registrado em “Eichmann em Jerusalém”, publicado dois anos após a execução do réu, em 1961. No livro, Arendt apresenta a tese da banalidade do mal, um conceito que se popularizou amplamente, embora muitas vezes seja invocado sem a devida compreensão de seu significado. Eichmann não era um arquiteto ideológico do nazismo, mas um executor meticuloso de ordens, empenhado em desempenhar seu papel com eficácia, garantindo sua sobrevivência. Quando percebeu que o regime nazista estava ruindo, fugiu para a Argentina e adotou uma nova identidade, levando uma vida discreta até ser descoberto por agentes israelenses. Sua captura envolveu um meticuloso plano do Mossad e do Shin Bet, que orquestraram sua extradição para Israel.

Weitz concentra sua narrativa na figura de Peter Zvi Malkin (1927-2005), chefe da equipe responsável pela captura de Eichmann. O filme inicia-se em 1954, com Malkin, interpretado por Oscar Isaac, liderando uma operação para prender um ex-integrante do Partido Nazista escondido na Áustria. A ação resulta na execução de um suspeito que, apesar de nazista, não era o alvo principal. Esse episódio estabelece um tom de tensão e frustração, exacerbado pelos flashbacks que revelam fragmentos do passado de Malkin e sua motivação pessoal para a missão. Aos poucos, esses vislumbres ganham contornos mais nítidos, proporcionando uma dimensão emocional ao protagonista.

Um dos momentos mais instigantes do longa ocorre quando alguns personagens assistem a “Imitação da Vida” (1959), de Douglas Sirk, em um cinema argentino. A cena que mais impressiona Sylvia (Haley Lu Richardson) envolve a denúncia de Sarah Jane (Susan Kohner) por Frankie (Troy Donahue), evidenciando as tensões raciais que ainda permeiam a sociedade. Essa inserção, além de funcionar como uma homenagem a Kohner — mãe de Weitz —, reforça a ideia de que preconceitos como o antissemitismo e o neonazismo persistem, mesmo em países considerados culturalmente avançados.

Ben Kingsley entrega uma interpretação magistral como Eichmann, criando um antagonista à altura do comprometimento de Oscar Isaac. O embate entre os dois ganha intensidade à medida que as negociações se arrastam, enquanto o governo argentino hesita em permitir a extradição. Durante esse período, Eichmann permanece sob custódia em um local secreto, e Weitz aproveita para explorar a dinâmica psicológica entre ele e seu captor. Um dos momentos mais emblemáticos do filme ocorre quando Malkin, navalha em mãos, faz a barba de Eichmann. A cena, carregada de simbolismo e tensão, sintetiza a relação de poder e fragilidade que define o confronto entre os dois.

A construção meticulosa de “Operação Final” se apoia na cinematografia precisa de Javier Aguirresarobe, cuja abordagem realça a sobriedade e o peso histórico da narrativa. O filme não apenas reconstrói um episódio crucial da história, mas também provoca reflexões sobre a responsabilidade individual diante de regimes totalitários. O destino de Eichmann foi selado em 1º de junho de 1962, quando foi enforcado na presença de familiares das vítimas. Seu julgamento, que se estendeu por quatorze meses, não apenas reafirmou a necessidade de justiça, mas também deixou um alerta sobre os perigos da obediência cega e da burocracia desumanizada.

Filme: Operação Final
Diretor: Chris Weitz
Ano: 2018
Gênero: Biografia/Drama/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★