O filme de Nicolas Cage que lotou cinemas e faturou R$ 1 bilhão está na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

O filme de Nicolas Cage que lotou cinemas e faturou R$ 1 bilhão está na Netflix

O Velho Oeste sempre foi um terreno fértil para lendas, histórias que suavizam eventos brutais e transformam a barbárie em mitologia. Uma dessas narrativas envolve o Cavaleiro Fantasma, uma entidade errante encarregada de cobrar pactos esquecidos com forças sombrias. Há muitos anos, o pequeno vilarejo de San Venganza, no Texas, foi visitado por um desses emissários do além, incumbido de recolher um tributo de mil almas. A aura de mistério que envolvia essa missão era tamanha que até mesmo seu executor intuía que algo de proporções catastróficas poderia ocorrer.

A fuga desse servo das trevas, desviando-se do destino traçado para aqueles condenados ao fogo eterno, atiça a fúria de seu mestre infernal, determinado a puni-lo por sua insubordinação. O desenrolar dessa disputa nos conduz a um parque de diversões, onde Mark Steven Johnson justifica as razões para a nova identidade do protagonista e a introdução da icônica Hell Cycle. É nesse instante que “Motoqueiro Fantasma” ganha contornos menos erráticos e se estrutura como um épico de ação com nuances sobrenaturais.

Nas páginas dos quadrinhos da Marvel Comics, que conquistaram legiões de fãs nos anos 1970, Johnny Blaze é retratado como um destemido dublê, disposto a vender sua alma para salvar a vida de seu pai. Contudo, as consequências desse pacto se manifestam nas noites de lua cheia, quando forças obscuras reivindicam sua presença, desencadeando a transformação que define sua maldição. O diretor-roteirista centra sua atenção no protagonista para, a partir dele, traçar os contornos dos demais personagens, ainda que a intensa presença de Blaze acabe se sobrepondo em um filme que não dispõe de tanto tempo para aprofundamentos.

Assim como em “Demolidor: O Homem Sem Medo” (2003), também comandado por Johnson, o personagem interpretado por Nicolas Cage é um herói atormentado por memórias de uma juventude marcada por dores e frustrações. Essas lembranças o impulsionam a se lançar em desafios cada vez mais arriscados, não apenas por um ideal de justiça, mas também como um acerto de contas pessoal. Esse aspecto é evidenciado na relação entre o jovem Blaze, vivido por Matt Long, e seu pai, Barton, interpretado por Brett Cullen, que deseja afastá-lo do mundo dos espetáculos itinerantes, extinguindo a magia dos circos e feiras animadas que compõem a atmosfera nostálgica da abertura.

Outro eixo dramático relevante está na figura de Roxanne, interpretada por Eva Mendes, cujo relacionamento com Blaze permanece num limbo indefinido. A leitura de Johnson sobre o personagem o apresenta como um homem apaixonado, porém prático, que coloca seus acertos com Mefistófeles, vivido por Peter Fonda (1940-2019), acima de qualquer laço afetivo. Já na sequência “Motoqueiro Fantasma — Espírito de Vingança”, sob a direção de Brian Taylor e Mark Neveldine, a abordagem muda: a concisão domina a narrativa, e o espetáculo visual toma conta, explorando efeitos digitais supervisionados por Nick Allder para expandir ainda mais a mitologia da saga.

Filme: Motoqueiro Fantasma
Diretor: Mark Steven Johnson
Ano: 2007
Gênero: Ação/Fantasia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★