Vira e mexe, namoros, matrimônios, separações e divórcios rondam as mentes frenéticas de cineastas, que se valem de tudo quanto apreendem da sociedade de seu tempo, do que podem observar de gente próxima, daquilo que imaginam ser o corriqueiro e, claro, de sua experiência para definir o que convém ou deve-se evitar numa relação dita amorosa. “Casamentos Cruzados” eleva a potências inalcançáveis a comédia de uma situação absurda, amparado por dois atores cuja habilidade permite-lhes fazer qualquer coisa.
Reese Witherspoon e Will Ferrell parecem bastante à vontade encarnando figuras ridículas, adultos dispostos a declarar guerra uns contra os outros por causa de um errinho à toa. Corroteirista de sucessos de bilheteria como “Zoolander 2” (2016), de Ben Stiller, e diretor de besteirois apimentados a exemplo de “Vizinhos” (2014), Nicholas Stoller transita desenvolto pelo terreno do humor e suas diversas configurações, e aqui vale-se de uma premissa implausível para questionar certas convenções, rindo — e fazendo rir — para castigar os costumes.
Jim, um viúvo cuja filha única acaba de ficar noiva, vai se acostumando à ideia de que logo, logo terá de procurar outros assuntos com que ocupar-se. Interpretada por Geraldine Viswanathan, Jenni é a típica princesinha do papai, tem todas as vontades atendidas por ele, e o público já começa a recear pelo futuro desse tiozão boa-praça. Enquanto a fatídica hora não chega, ele dedica-se a organizar o casório de Jenni numa tal Palmetto House, onde ele próprio casou-se com a mãe de Jenni há três décadas, e agora tenta fazer com que aquele momento volte de algum modo.
Ele ignora uma lição que já deveria ter aprendido, e a vida encarrega-se deixar claro que cada qual passa por suas experiências, ou seja, por mais que Jim e a finada esposa tenham sido felizes (graças às bênçãos da ilha ou não), ninguém pode asseverar que o esforço de reproduzir suas ótimas impressões passados tantos anos seja de alguma valia. A inutilidade de seu bem-intencionado gesto resta clara quando fica-se sabendo que também consta o aluguel do espaço para Neve e Dixon, o outro casal de noivos vivido por Meredith Hagner e Jimmy Tatro.
Como Jim, Margot, a irmã mais velha de Neve, também guarda belas recordações familiares de Palmetto House e, da mesma forma que ele, também não está disposta a abdicar do que sonhara para a caçula. Antes que cheguem ao patético acordo que o diretor-roteirista desvela com cuidado, Jim e Margot travam uma batalha entre selvagem e nonsense, durante a qual Witherspoon mostra um lado histriônico que costumava explorar mais no início da carreira, em besteirois infantojuvenis feito “Legalmente Loira” (2001). Como a Elle Woods do filme de Robert Luketic, Margot revela-se uma criatura altruísta, que no fundo, bem lá no fundo, sabe que nem tudo pode ser como ela deseja. Mas até que se alcance esta evolução, há lugar para muita insânia.
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