Comparar o 11 de Setembro ao Holocausto é uma afirmação que, inevitavelmente, suscita polêmica. No entanto, há um elo inegável entre os dois eventos: ambos são capítulos trágicos da história, repletos de complexidade, escuridão e ramificações que desafiam qualquer tentativa de síntese cinematográfica sem incorrer no risco da superficialidade ou da pretensão desmedida. Ainda assim, “Tão Forte e Tão Perto” encontra um caminho poético para abordar os atentados de 2001, ao mesmo tempo em que traça um paralelo sutil com a aniquilação de seis milhões de judeus sob o regime nazista entre 1934 e 1945.
Stephen Daldry se destaca por explorar as reverberações de catástrofes históricas na vida de indivíduos comuns. Em “O Leitor” (2007), construiu um poderoso ensaio sobre moralidade e a carga das escolhas que podem assombrar consciências sensíveis. Agora, ele transfere esse olhar para um menino de onze anos, cujo luto pela perda do pai no ataque às Torres Gêmeas é suavizado por um enigma que lhe serve de refúgio.
Atravessar o tempo exige fé. A crença em algo — seja um ideal, uma esperança ou um sentido maior — é o que permite ao ser humano resistir à sua própria natureza destrutiva e buscar redenção. A ciência pode se empenhar em prolongar a existência, mas a realidade física segue inexoravelmente limitada.
Oskar Schell, protagonista da história, é um garoto de inteligência excepcional, capaz de compreender o mundo com uma lucidez precoce. Seu universo desmorona quando seu pai, Thomas, morre nos atentados. O roteiro de Eric Roth e Jonathan Safran Foer centra-se quase inteiramente na jornada de Oskar, interpretado com intensidade por Thomas Horn. Tom Hanks, por sua vez, encarna com sobriedade a figura paterna, reforçando a imagem do americano pacato e afetuoso. No primeiro ato, os momentos entre pai e filho evocam um tom de dramédia, revelando o vínculo que sustenta emocionalmente o garoto. Mas a dor irrompe quando Oskar descobre a segunda mensagem deixada pelo pai e encontra um envelope com a palavra “Black” dentro de um vaso, desencadeando sua busca.
Daldry equilibra realismo fantástico e elementos de fábula, utilizando licenças poéticas para convencer o espectador da viabilidade da jornada de Oskar por Nova York em busca de alguém com o sobrenome Black. Como em “A Lista de Schindler” (1993), de Steven Spielberg, a enumeração de nomes carrega um simbolismo de redenção. Contudo, aqui, a resolução tende para um desfecho mais confortável, condizente com a perspectiva infantil do protagonista.
O filme desafia fórmulas convencionais ao abordar um trauma coletivo pela lente da subjetividade de uma criança. Com um olhar sensível, Daldry constrói um retrato da dor que não se prende ao sensacionalismo, mas sim ao impacto humano dos eventos. “Tão Forte e Tão Perto” se estabelece como uma reflexão sobre perda, memória e a incansável busca por sentido, deixando um eco persistente no espectador.
★★★★★★★★★★