Não há nada de inédito na ideia de explorar as dificuldades que impedem o equilíbrio interior, ambientando-as em um cenário paradisíaco que parece dissolver as angústias mais profundas, os desalinhamentos da vida cotidiana e a sensação de que o tempo, por vezes, escapa sem retorno. No entanto, “Em Uma Ilha Bem Distante” se apropria desse conceito familiar para ressaltar a necessidade essencial de um reencontro pessoal, de um deslocamento que não seja apenas geográfico, mas também existencial.
A proposta se ancora na busca por pertencimento e harmonia com um mundo natural que, embora seja refúgio, não se submete à indiferença humana. A cineasta Vanessa Jopp delineia um percurso onde viver se mostra mais do que um conjunto de ilusões passageiras: é a construção de um sentido maior que transcende a própria individualidade.
A diretora nos apresenta Zeynep, descendente de turcos radicada na Alemanha, sobrecarregada por um casamento sem vida, pela recente morte da mãe e pela crescente alienação de sua filha. A personagem de Naomi Krauss se vê pressionada por responsabilidades inescapáveis, entre o pai idoso e tradicionalista, interpretado por Vedat Erincin, e o marido Ilyas, papel de Adnan Maral, cujo distanciamento só amplia o vácuo emocional em que ela está presa.
O roteiro de Jane Ainscough não se interessa por abordagens abruptas; a transformação de Zeynep acontece em camadas sutis, revelando a libertação latente que nem ela mesma reconhecia. O ponto de virada surge com a inesperada herança de uma casa numa ilha croata, um convite para se reinventar sem as amarras do passado. Nesse deslocamento, o contraste entre a quietude do lugar e os turbilhões internos da protagonista cria a tensão necessária para um recomeço, mesmo que essa nova fase exija confrontos e desconfortos imprevistos.
Ainda no primeiro ato, Jopp aprofunda-se nos dilemas da protagonista sem recorrer a dramatizações excessivas. O encontro inusitado de Zeynep com Josip Cega, vivido por Goran Bogdan, estabelece um ponto de equilíbrio entre humor e introspecção, com ambos os personagens revezando-se no papel de catalisadores da mudança. O filme se desdobra em subtramas que reforçam sua densidade emocional, como a relação complicada com a filha, o envolvimento passageiro com o jovem corretor Conrad, interpretado por Artjom Gilz, e a hesitação diante da possibilidade de uma nova união com Josip.
O visual deslumbrante da Croácia, sob a lente de Katharina Bühler, não apenas enfeita a narrativa, mas intensifica sua essência: o cenário não é um mero pano de fundo idílico, e sim um espelho das transformações internas da protagonista. Em meio a expectativas frustradas e reviravoltas inesperadas, Zeynep reencontra a si mesma ao reconhecer que a vida, em sua complexidade, pode ser mais generosa do que se imagina.
★★★★★★★★★★