Novidade na Netflix: drama intimista com Emma Thompson que vale mais que uma sessão de terapia Divulgação / Hulu

Novidade na Netflix: drama intimista com Emma Thompson que vale mais que uma sessão de terapia

Nancy Stokes, interpretada por Emma Thompson, é uma mulher entre 50 e 60 anos, professora aposentada, viúva há dois anos e mãe de dois filhos. Decidida a explorar um lado de sua vida que sempre negligenciou, ela contrata um garoto de programa para, quem sabe, ter uma noite de prazer. Esse rapaz é Leo Grande, vivido por Daryl McCormack, um jovem de menos de 30 anos, bonito, inteligente e que se comporta com elegância e profissionalismo.

Leo é extremamente cuidadoso no que faz, conduzindo suas interações com Nancy de maneira quase mecânica, como se seguisse um protocolo. No entanto, seu objetivo é fazer com que ela se sinta à vontade, algo que se revela desafiador. Nancy é travada, conservadora, metódica e carrega uma baixa autoestima. Tem vergonha do próprio corpo, de sua idade e, acima de tudo, do fato de nunca ter tido um orgasmo. Leo, por outro lado, acredita que essa experiência é essencial. Afinal, orgasmos acontecem todos os dias. Por que seria tão difícil para ela?

Mas a questão é muito mais complexa. Nancy carrega um peso emocional enorme, decorrente da relação com o falecido marido e dos sacrifícios que fez pelos filhos, os quais, em sua visão, a impediram de perseguir seus sonhos. Sua profissão, suas escolhas, tudo parece ter sido moldado por expectativas externas. Dessa forma, ela se encontra aprisionada por regras e normas que ela própria criou e reforçou ao longo da vida.

Por outro lado, o trabalho de Leo vai além do aspecto sexual. Ele enxerga sua profissão como uma espécie de terapia, na qual se conecta emocionalmente com seus clientes, escuta seus desabafos e atende seus desejos — que, na maioria das vezes, não são puramente eróticos. Ele não se desconecta completamente dessas pessoas quando sai de seus quartos. Pelo contrário, cria vínculos, ajudando-as a lidar com seus dilemas até que não precisem mais dele.

Ao longo do filme, Nancy e Leo se reencontram algumas vezes e desenvolvem uma relação que os transforma. A dinâmica entre eles vai além do mero interesse físico: a maternidade, um peso imenso na vida de Nancy, ressoa nos problemas de Leo, que tem uma relação complicada com sua própria mãe. Assim, seus encontros acabam funcionando como um processo de cura para ambos.

O intuito de “Boa Sorte, Leo Grande” é a refletir sobre os limites entre intimidade e profissionalismo. Até onde Nancy pode ir dentro dessa nova experiência? Quais limites Leo deve estabelecer e respeitar? Como era de se esperar, essa relação escapa do controle em determinados momentos. No entanto, sob a direção sensível de Sophie Hyde e o roteiro perspicaz de Katy Brand, o filme transcende o clichê e se torna uma reflexão poderosa sobre autoaceitação, amadurecimento e intimidade. Com um formato quase teatral, que se desenrola em apenas dois cenários e apostando na força dos diálogos, a narrativa nos conduz a uma jornada profundamente humana e emocionante.

Filme: Boa Sorte, Leo Grande
Diretor: Sophie Hyde
Ano: 2022
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.