O filme de 11 bilhões: versão estendida de um dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos acaba de estrear na Netflix

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A passagem da juventude para a maturidade costuma ser mais árdua do que o simples abandono da infância. Essa transição é um terreno acidentado, onde as emoções se acirram e os desafios se multiplicam. Justamente quando se acredita ter adquirido algum controle sobre o caos, surge uma nova leva de provações, empurrando o indivíduo para águas mais turbulentas, onde o destino se desdobra de formas imprevisíveis, seja num avanço vertiginoso ou numa travessia mais cadenciada e sinuosa.

O aprendizado acumulado no percurso anterior se mostra valioso, mas, ao alcançar a maioridade, é inevitável confrontar impulsos incontroláveis que impõem um custo elevado. Essa batalha interior é parte do fascínio exercido por Peter Parker, cuja jornada atinge um ápice em “$1”, um filme que resgata a essência dos quadrinhos que fizeram gerações inteiras correrem às bancas para descobrir as reviravoltas concebidas por Stan Lee (1922-2018) e Steve Ditko (1927-2018). Sob a direção inspirada de Jon Watts, a obra reverencia os criadores, reafirmando o legado do fotógrafo do “$1”, ícone maior da Marvel e símbolo do espírito visionário de Lee.

O roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers retoma o ponto exato onde “$1” (2019) encerrou, com Quentin Beck, o Mysterio vivido por Jake Gyllenhaal, desmascarando a identidade do herói. Watts transforma a fuga desesperada de Parker e Mary Jane por Nova York em um espetáculo cômico frenético, conduzindo-os até o refúgio improvável na casa de Ned Leeds. O impacto do escândalo os atinge sem distinção, custando-lhes uma vaga no MIT e dando início à nova trama, que mergulha no peso das consequências e no preço da fama.

Embora Tom Holland, Zendaya e Jacob Batalon se destaquem, o longa confere maior densidade aos antagonistas. O Doutor Estranho de Benedict Cumberbatch assume a postura ambígua de um guia duvidoso, enquanto Doutor Octopus, de Alfred Molina, e o Duende Verde, interpretado com maestria por Willem Dafoe, retornam com vigor inusitado. Watts explora a nostalgia ao resgatar Betty, a colega de Parker, situando-a num momento emblemático: a cobertura jornalística dos últimos dias do ensino médio. O flashback reaviva lembranças da viagem à Europa de “$1”, mas curiosamente o protagonista não aparece nas imagens.

A explicação reside no feitiço do Doutor Estranho, destinado a apagar Peter Parker da memória coletiva e encerrar os acessos ao multiverso. O verdadeiro impacto da magia se revela na cena pós-créditos, que estende a trama por mais onze minutos e traz surpresas há muito aguardadas. Nomes marcantes do legado cinematográfico do Aranha, como Tobey Maguire, da trilogia original (2002-2007), e Andrew Garfield, de “$1” (2012-2014), marcam presença. Willem Dafoe brilha com uma intensidade que rivaliza com a energia dos mais jovens do elenco, e Marisa Tomei, na pele da sempre inesquecível May Parker, não fica atrás.

Ao imprimir um tom quase distópico à sua abordagem, Watts insinua que o romantismo ingênuo de Peter Parker pode estar fora de lugar no mundo real. Contudo, no cinema, a história é outra: o herói segue vivo, ressoando em cada geração como um símbolo de resiliência e reinvenção.

Filme: Homem-Aranha: Sem Volta para Casa
Diretor: Jon Watts
Ano: 2021
Gênero: Ação/Ficção Científica
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★