Enfia esse Grammy no… (20 canções fundamentais para compreender a genialidade de Milton Nascimento)

Enfia esse Grammy no… (20 canções fundamentais para compreender a genialidade de Milton Nascimento)

Calma lá, cara pálida. Ato falho. Por um momento vociferei como se fosse um Donald Trump. Eu sou da paz. Não estou nervoso. Só indignado mesmo. E a culpa não é do Grammy Awards. Há décadas, a academia norte-americana reconhece e premia os melhores profissionais da indústria fonográfica. Legal da parte deles. Quero crer que tudo não passou de um vacilo, de uma gafe, de um lamentável equívoco cometido contra Milton Nascimento, 82 anos, um dos maiores cantores e compositores brasileiros. A responsabilidade, quem sabe, terá sido de um estagiário, de um zé-ruela, de um “trumpista” infiltrado, de um desavisado integrante do cerimonial que organizou a incensada festa da música mundial, ocorrida no último dia 2 de fevereiro, em Los Angeles.

Fato é que Bituca viajou de longe, lá dos cafundós de Minas, para nada. Ou quase nada. Afinal, teve a oportunidade de rever amigos diletos do cenário musical. Milton concorria na categoria de Melhor Álbum Vocal de Jazz juntamente com a cantora e musicista estadunidense Esperanza Spalding. Ao contrário da sua parceira, Bituca tomou um block ao não teve assento na zona VIP do evento. Decepcionado, ele não deu as caras, sequer compareceu à festa. Pelo que foi noticiado, a organização teria destinado ao brasileiro um lugar numa arquibancada, local impróprio, com escadas de difícil acesso para um homem idoso e fisicamente debilitado como, infelizmente, é o caso dele.

Não se trata de empáfia. Nem frescura. Por mais paradoxal que possa parecer, a despeito de Esperanza Spalding ter feito o álbum em parceria com Milton Nascimento, justamente para homenageá-lo, regravando uma gama de sucessos da sua lavra, esqueceram-se do brasileiro. Ou então, quem sabe, por algum motivo torpe, nada republicano, não desejavam a presença dele naquele setor nobre do espetáculo. Como forma de protesto, Esperanza compareceu ao evento, tomou assento na área destinada e colocou do seu lado um cartaz com a foto do Bituca e os seguintes dizeres “This living legend should be seated here” (Essa lenda viva deveria estar sentada aqui). Fofa ela.

Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração. Tanto assim que, contando com o apoio de amigos, de desconhecidos e de seguidores da Revista Bula na web, compilei uma lista preciosa — e didática aos incautos — contendo as 20 melhores canções de Milton Nascimento em todos os tempos. Foram relacionadas somente canções da sua autoria ou aquelas compostas com outros feras da MPB, como Fernando Brant, Ronaldo Bastos e os irmãos Borges, do Clube da Esquina. Como sempre acontece, as listas geram insatisfações, críticas e alguma polêmica. Nada que se compare, contudo, a deixar no vácuo um ícone da música brasileira, mundialmente reconhecido pelo seu talento como cantor, compositor e multi-instrumentista.

Quando Milton retornar ao Brasil, certamente será recebido com café no bule, biscoitos de queijo e o afeto incondicional de uma legião de fãs que reverenciam o seu carisma, a sua voz, as suas canções e aquele jeitinho mineiro de comer pelas beiradas o amor que a gente tem para dar. Viva Bituca! Viva a música brasileira! Vocês perderam, playboys. Milton Nascimento é nosso.

Eberth Vêncio

Eberth Franco Vêncio, médico e escritor, 59 anos. Escreve para a “Revista Bula” há 15 anos. Tem vários livros publicados, sendo o mais recente “Bipolar”, uma antologia de contos e crônicas.