A série que virou um verdadeiro fenômeno global — 500 dias no Top 10 da Netflix Divulgação / Netflix

A série que virou um verdadeiro fenômeno global — 500 dias no Top 10 da Netflix

Assane Diop não se encaixa no estereótipo de criminoso comum. Carrega consigo um propósito que remonta a uma ferida aberta há mais de duas décadas: a injustiça que recaiu sobre seu pai, preso sob uma acusação forjada. Movido por um desejo implacável de vingança, ele retorna para acertar contas com a família Pellegrini.

No centro de “Lupin” está um colar de pérolas e diamantes que pertenceu a Maria Antonieta (1755-1793), uma joia desaparecida desde que a monarquia francesa desmoronou. Essa peça preciosa desencadeia a trama, e a condução da narrativa depende fortemente da presença magnética de Omar Sy, que dá vida a um mestre do disfarce inspirado no célebre personagem literário criado por Maurice Leblanc (1864-1941), cuja coletânea de histórias surgiu em 1907.

Criado para engolir as próprias dores, Assane canaliza sua existência para recuperar o colar, agora resguardado no Louvre, enquanto digere a traição que destruiu sua família. Acusado injustamente, Babakar Diop carregou um fardo pesado, e seu filho cresceu à sombra desse passado. A primeira temporada, lançada pela Netflix em 2021 e composta por cinco episódios, oscila entre a audaciosa tentativa do protagonista de subtrair a joia e os desdobramentos de sua empreitada, incluindo um reencontro inesperado que revela camadas ocultas de sua trajetória.

A construção do personagem é enriquecida pelo uso recorrente de flashbacks, nos quais um Assane ainda adolescente, interpretado por Mamadou Haidara, perambula por Paris ao lado do pai. Em uma dessas passagens, os dois ajudam Anne Pellegrini, vivida por Nicole Garcia, que se vê presa no meio de uma tempestade sem conseguir ligar o carro. Diferente do marido, Anne demonstra alguma compaixão, mas sua passividade não impede o destino cruel de Babakar. A sequência que mostra o jovem Assane, solitário, sepultando o pai em uma cova anônima enquanto encara a hipocrisia dos Pellegrini, é uma das mais marcantes da temporada, transformando sua revolta em uma experiência catártica para o público.

A presença materna, Mariama Diop, é um vazio que permeia quase toda a narrativa. Seu reaparecimento, muito depois do roubo do colar e das artimanhas de Assane contra aqueles que tentaram usá-lo, adiciona uma nova dinâmica à história. Os diretores aproveitam esse retorno para intensificar a carga emocional, especialmente nos momentos compartilhados entre Sy e Naky Sy Savané. “Lupin” se estrutura como um híbrido bem-sucedido de suspense policial, humor e drama familiar, equilibrando reviravoltas engenhosas com dilemas pessoais que ressoam além do jogo de trapaças e vingança.


Série: Lupin
Criação: George Kay e François Uzan 
Anos: 2021-2023
Gêneros: Thriller
Nota: 8/10