O Ministério da Saúde adverte: fingir que é feliz pode causar tristeza profunda

O Ministério da Saúde adverte: fingir que é feliz pode causar tristeza profunda

Uma vez um homem disse a Buda: Eu quero felicidade! Buda, muito sabiamente, lhe respondeu: — Primeiro tire o “eu”, que é o seu ego. Depois tire o “quero”, que é o seu desejo. Pronto. Agora você é deixado com a felicidade.

Ah, se fosse simples assim… Hoje é mais fácil forjar felicidade do que ser feliz de verdade. A internet está aí para comprovar isso. Quantas pessoas “felizes” nas redes sociais, realizadas, satisfeitas, apaixonadas. Ao mesmo tempo, os casos de depressão aumentaram assustadoramente nos últimos anos. Inventar uma felicidade para esfregar na cara dos outros não traz nenhum benefício. Aliás, fingir alegria deixa as pessoas muito mais tristes. Felicidade demonstrada forçadamente é a maior prova do quanto se está infeliz. Veja bem: estar infeliz, porque a felicidade ou a falta dela são estados passageiros, e não permanentes. É humanamente impossível “ser” feliz o tempo todo, durante uma vida inteira.

Quando pensamos em felicidade, logo vem à cabeça o que é preciso ter e fazer para conseguir “ser” feliz. É normal achar que se fazer o que eu quero, realizar o meu desejo, me faz sentir prazer, logo, me faz feliz. Então, se eu quero comprar uma roupa, se eu quero ir a uma festa, se eu tenho a liberdade de ir e vir, eu “sou” feliz. Se eu quero viajar, se eu me mudo de casa, de cidade ou de país, eu “sou” feliz. Se eu quero ter um filho e a criança nasce saudável eu “sou” uma pessoa feliz. Nem sempre.

Enquanto associarmos a felicidade com a realização de um desejo, nós não nos sentiremos felizes. Porque assim que o desejo é realizado, nos sentimos vazios novamente. Esse movimento de saciar uma vontade nos torna mais infelizes do que antes. É aí que voltamos lá atrás naquele processo de mostrar-se feliz por puro orgulho e vaidade.

Às vezes não é possível fazer tudo o que queremos porque não temos saúde, porque não temos dinheiro, porque não temos tempo, porque somos jovens demais ou porque estamos velhos demais. Às vezes a nossa felicidade depende de uma situação, de uma melhoria financeira, de uma casa maior, de um emprego melhor. Às vezes a felicidade depende da felicidade do outro, ainda que a felicidade do outro nos incomode.

Mas e você, sabe o que te faz feliz? Eu vou dar cinco opções e certamente você vai escolher uma ou várias delas. Ter saúde, ter um grande amor, ter uma família, ter uma carreira de sucesso, e por último, não menos importante, ter muito dinheiro! Pois bem, o mais longo estudo sobre a felicidade foi feito por pesquisadores da Universidade de Harvard e durou 76 anos. Isso mesmo. Depois de avaliar todas as entrevistas realizadas com os voluntários e seus descendentes, chegaram à seguinte conclusão: a felicidade está na qualidade dos nossos relacionamentos. Ou seja, a maneira como convivemos, seja no amor, em família, no trabalho ou com os nossos amigos é um termômetro do quanto estamos bem conosco. Quando estamos insatisfeitos, certamente estamos passando por problemas em nossos relacionamentos.

Portanto, felicidade não se tem e não se compra. Felicidade se constrói e se mantém. Ok. Até aqui eu entendi. Mas será que é só isso que nós precisamos para estarmos felizes, completos e realizados? Bom, do meu ponto de vista, felicidade é também sentir-se útil. Uma pessoa produtiva, que trabalha para o bem comum, que cuida do outro, é um ser humano feliz.

Sabe por que eu penso dessa forma? Porque uma vez eu conheci um homem que tinha um bom emprego, uma vida estabilizada e estruturada. Ele tinha saúde, amigos verdadeiros, um lar acolhedor e muitas pessoas que o amavam. Tinha um plano de carreira, um carro, planejava comprar a casa própria. Não lhe faltava “nada”. Mas ele andava triste, insatisfeito, inconformado com o seu propósito tão previsível. O ambiente corporativo já não fazia sentido, não havia nada que o seu dinheiro pudesse comprar que o fizesse feliz. Por fim, ele descobriu que se sentia inútil. Então, esse homem cortou todos os vínculos de obrigatoriedade que o faziam se sentir sem uma função maior diante da vida. Deixou “tudo” para trás e partiu sem rumo, com apenas uma mochila e muita vontade de servir e fazer o bem.

Foi assim que eu passei a acreditar que a felicidade nasce quando fazemos alguém feliz. Confesso que nunca tinha visto esse meu amigo tão pleno. Ele admitiu que tinha passado uma vida sem conhecer esse sentimento, e que estava muito agradecido ao universo por ter encontrado a felicidade pelo caminho. Foi então que eu me lembrei do ensinamento do monge budista Thich Nhat Hanh, que diz: “não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”. É, eu tive que concordar…

Karen Curi

é jornalista.