“Ghostbusters: Afterlife” se sustenta como um empreendimento familiar. Em 1984, Ivan Reitman (1946-2022) narrou as peripécias de um grupo de cientistas excêntricos, cujo ofício consistia em conter uma invasão de espectros espalhafatosos em Manhattan. O estrondoso sucesso impulsionou a franquia por décadas, acumulando uma bilionária arrecadação. No penúltimo capítulo da série, Jason Reitman assume o comando, mas a passagem do tempo é indisfarçável. Como de praxe em continuações, ele e Gil Kenan revisitam a premissa original, incorporando uma miríade de referências, algumas engenhosas, outras descartáveis.
Aqui, um dos caça-fantasmas renega o heroísmo, abandona a família e se refugia num rancho isolado; décadas depois, ele também atravessa para o plano dos espectros, deixando para trás um terreno decadente como único recurso para sua filha, agora uma mãe solo de dois adolescentes. O diretor desperdiça a chance de renovar a trama ao insistir em velhos clichês, preferindo retomar o devorador de metal e os homúnculos de marshmallow, quando dispunha de um elenco promissor para explorar novas possibilidades.
A narrativa se desenrola após uma breve referência a uma antiga mineradora Shandor, momento em que Reitman encaminha a história para seu cerne. Callie Spengler, uma mulher sem ocupação definida, descobre que seu pai, Egon, faleceu e precisa viajar até Summerville, um vilarejo fictício em Oklahoma, para resolver o inventário de um imóvel abandonado, uma propriedade em ruínas onde apenas a lama prospera.
A intenção era resolver a burocracia e voltar a Nova York, mas seu senhorio a despeja, forçando-a a transformar o casebre em lar. Carrie Coon conduz essa transição com habilidade, revelando a leveza cômica de Callie, uma otimista incurável. O enredo logo se expande para Trevor, um adolescente introspectivo e propenso a paixões repentinas, e Phoebe, uma prodígio da ciência que frequentemente salva os outros dois. Finn Wolfhard e Mckenna Grace revezam-se com Coon nos momentos-chave até que as entidades sobrenaturais tomem conta da cena, sustentando a dinâmica da trama por seus próprios méritos.
Elementos icônicos, como o Ectomóvel — um Cadillac Miller-Meteor 1959 — e a música-tema de Ray Parker Jr., transportam o público à era em que Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson e Harold Ramis (1944-2014) enfrentavam ameaças do além. O quarteto faz uma aparição especial, com Ramis reconstruído digitalmente em uma intervenção bem-humorada. Ainda assim, com uma nova história a ser contada, o protagonismo deveria ter permanecido com Coon, Wolfhard e Grace, sem se escorar excessivamente nas sombras do passado.
★★★★★★★★★★