Se 15 milhões de leitores amaram, você também vai se apaixonar por essa história da Netflix Maila Iacovelli / Netflix

Se 15 milhões de leitores amaram, você também vai se apaixonar por essa história da Netflix

A adolescência pode ser descrita como uma tempestade de incertezas, e a cultura popular não cansa de explorar essa fase em narrativas que oscilam entre o drama e a leveza. Ano após ano, uma enxurrada de filmes tematiza os dilemas de jovens que, por escolha própria ou por circunstâncias adversas, veem-se enredados em complicações típicas desse período. Seja por decisões impulsivas, más influências ou uma combinação de ambos, essas histórias encontram um público fiel, muitas vezes moldadas por best-sellers juvenis que alimentam um ciclo econômico constante. Brandon Camp, ao compreender os códigos desse universo, sabe como capturar a atenção desse espectador com precisão.

Na adaptação de “Amor e Gelato”, ele se debruça sobre as experiências de uma jovem acostumada ao conforto, mas que precisa lidar com mudanças abruptas. Sem atropelos, a narrativa se desdobra com um olhar atento às nuances emocionais, enquanto o pano de fundo se constrói com esmero. É evidente que uma produção como essa exige um apelo visual marcante: a luz dourada que incide sobre monumentos icônicos da Itália, o azul infinito do céu, as paisagens encantadoras. Tais elementos conferem uma dimensão cativante à história, porém Camp evita que a estética se sobreponha à essência do enredo. Ainda que a trama, baseada no livro homônimo de Jenna Evans Welch, se apoie em um roteiro simples, há uma intenção clara de valorizar a experiência emocional, atraindo até mesmo aqueles que normalmente não se identificam com o gênero.

Lina, criada nos Estados Unidos, vê-se obrigada a viajar para a Itália por razões pouco animadoras. Sua mãe, já ausente da narrativa desde o início, faleceu de câncer e deixou-lhe um diário, no qual revela seu desejo de que a filha conheça o país. Esse pedido, no entanto, esconde outra intenção: que Lina vá atrás do pai biológico, um homem que nunca manifestou interesse em sua existência. Mesmo relutante, ela se entrega à jornada, sem imaginar o impacto que essa busca terá em sua percepção sobre si mesma e sobre o que deseja para o futuro.

Histórias dessa natureza frequentemente abraçam uma visão simplificada da juventude, pintando adolescentes como seres oscilantes, reféns das próprias indecisões e facilmente influenciáveis. Aqui não é diferente. A protagonista, interpretada por Susanna Skaggs, recebe o acolhimento de Francesca, vivida por Valentina Lodovini, e de Howard, papel de Owen McDonnell, cuja relação com a mãe de Lina guarda um significado especial. Com essas conexões se estabelecendo, a narrativa ganha camadas que ultrapassam o drama juvenil e dialogam com questões de pertencimento e identidade.

A descoberta do amor — ou daquilo que Lina acredita ser amor — ocorre em paralelo ao aprofundamento de sua trajetória. Primeiro, Alessandro, um rapaz sedutor e inconsequente, interpretado por Saul Nanni, capta sua atenção. Depois, Lorenzo, um aspirante a chef vivido por Tobia De Angelis, surge como uma alternativa mais alinhada ao que ela precisa. No entanto, o maior obstáculo não é escolher entre dois possíveis interesses românticos, mas sim entender suas próprias emoções, o que se revela um desafio ainda maior. A transição entre Roma e Florença marca um ponto crucial dessa jornada, sendo o momento em que Lina se aproxima das respostas que tanto relutou em encarar.

O impacto de narrativas voltadas ao público adolescente transcende o entretenimento puro e simples. Seja sob uma ótica crítica ou meramente comercial, é impossível ignorar a relevância desse mercado, que reflete desejos e inseguranças de uma parcela significativa da população mundial. Com uma base de espectadores cada vez mais exigente e com maior poder de consumo, essa indústria se mantém como um pilar sólido dentro do audiovisual.

Em diálogos com leitoras da obra de Welch, a opinião geral indicava uma recepção mais favorável ao filme em relação ao livro, algo digno de nota quando se trata de adaptações literárias. A transposição de uma história do papel para a tela muitas vezes suaviza excessos textuais e permite que ambiguidades sejam resolvidas ou reinterpretadas de forma mais dinâmica. Ainda que sem conhecer a versão original, é possível compreender por que Camp conseguiu tornar sua versão mais envolvente. Essa, afinal, é uma das qualidades essenciais do cinema.

Filme: Amor e Gelato
Diretor: Brandon Camp
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Coming-of-age/Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★