A série mais assistida da atualidade: o novo fenômeno da Netflix já foi visto 16 milhões de vezes em apenas 10 dias Han Se-jun / Netflix

A série mais assistida da atualidade: o novo fenômeno da Netflix já foi visto 16 milhões de vezes em apenas 10 dias

Desde março de 2020, a humanidade viu-se forçada a encarar, sem rodeios, o saldo de uma relação desordenada e exploratória com o ambiente. O que antes parecia uma preocupação remota tornou-se uma realidade inescapável, expondo os danos acumulados ao longo de séculos. Em um mundo desorientado pelo avanço da crise, os desmandos e a falta de resposta eficaz em diversas regiões agravaram um quadro já crítico. No Brasil, como bem sabemos, a negligência institucional somou-se ao pânico coletivo, fazendo da incerteza um adversário tão perigoso quanto a própria ameaça. A paranoia, nesses termos, deixou de ser um delírio e consolidou-se como sintoma de um colapso que transcendeu o físico e invadiu o psicológico.

Nessa conjuntura, médicos e profissionais da saúde emergiram como figuras quase míticas, carregando sobre os ombros um peso que os separou, de forma irreversível, do restante da sociedade. O seriado sul-coreano “Heróis de Plantão” explora essa transformação, questionando se o reconhecimento e a exaltação desses profissionais não os reduziram a símbolos, apagando sua condição humana. Acostumados a agir dentro de protocolos rigorosos e a evitar desvios que comprometam suas decisões, esses indivíduos se deparam com reviravoltas que os desafiam de maneira insuspeita. Baek Gang-hyeok, interpretado por Ju Ji-hoon, encarna esse paradoxo: um médico altamente capacitado, multifacetado, mas inevitavelmente humano. Sob a direção de Lee Do-yun, a trama se desenrola em oito episódios que exploram sua trajetória, expondo como sua competência o coloca em um pedestal ao mesmo tempo em que evidencia as contradições de alguém que precisa se equilibrar entre a racionalidade da ciência e a imprevisibilidade da vida.

O tempo ensina, muitas vezes com brutalidade, que a existência não passa de um jogo de forças aleatórias sobre o qual exercemos pouco ou nenhum domínio. Se há um prazer perverso em viver, ele está justamente no fato de que não há garantias. A vida avança sem aviso, desfaz certezas, impõe escolhas e, quando menos se espera, revira tudo outra vez. Essa imprevisibilidade, porém, é a única vantagem real que nos resta: o fluxo constante impede que sejamos reféns de um único momento. O universo de “Heróis de Plantão” se sustenta nessa percepção, evidenciando que a maior batalha dos médicos talvez não seja contra doenças ou emergências, mas contra o peso das próprias decisões.

A relação entre médicos e pacientes, como se sabe, é carregada de atritos. Entre diagnósticos e recomendações, os profissionais frequentemente se colocam como guardiões da lógica e do autocontrole, enquanto os pacientes insistem em viver conforme suas próprias regras. O roteiro de Lee Do-yun concentra essas tensões na figura de Baek Gang-hyeok, que ostenta a arrogância típica de quem se acostumou a estar no comando, mas que, no episódio final, vê-se forçado a encarar sua vulnerabilidade. Ainda assim, o seriado não escapa da sensação de déjà vu. Qualquer semelhança com “House, M.D.” ou “The Good Doctor” não é mera coincidência: as mesmas temáticas, os mesmos dilemas, mas sem a mesma irreverência que fez dessas produções referências no gênero.


Série: Heróis de Plantão
Direção: Do-yun Lee
Ano: 2025
Gênero: Drama
Nota: 7/10