Dois irmãos, marcados pelas cicatrizes do alcoolismo na família, atravessam a vida como sombras, invisíveis para uma sociedade que os suporta sem realmente enxergá-los. O que os mantém ligados é o amor — expresso ou oculto — pelas artes marciais mistas, uma disciplina tão brutal quanto transformadora. Em lados opostos do país, ambos encontram no esporte uma maneira de subsistir, suportando feridas físicas e emocionais até que um inesperado confronto os obriga a encarar o passado e um ao outro.
“Guerreiro” é um drama que mistura a dureza do octógono com a vulnerabilidade dos laços familiares. Em sua essência, ecoa o espírito de “Rocky, um Lutador” (1976), dirigido por John G. Avildsen e imortalizado por Sylvester Stallone, mas sem depender da nostalgia. A história, conduzida pelo diretor Gavin O’Connor e roteirizada por Cliff Dorfman e Anthony Tambakis, vai além da pancadaria ao explorar as sequelas do passado e o peso da redenção. No centro da narrativa, um pai em busca de perdão, dois filhos tentando reconstruir-se e uma disputa inevitável que extrapola o ringue.
Tommy Conlon, um ex-fuzileiro marcado pelos horrores da guerra, retorna à casa do pai, Paddy, após anos de afastamento. O divórcio dos pais o levou a seguir para a Califórnia com a mãe, e agora, órfão e solitário, ele encara o homem que outrora foi seu maior inimigo. Paddy, antes um alcoólatra destrutivo, está sóbrio e determinado a recuperar o vínculo com o filho, mas as marcas do passado não se apagam tão facilmente. Enquanto isso, Brendan, o irmão mais velho, vive outro tipo de batalha: professor de física e pai de família, vê-se diante da ruína financeira e precisa de uma solução para salvar sua casa. Seu recurso é voltar ao universo das lutas clandestinas, arriscando a própria carreira para sustentar aqueles que ama.
O destino, porém, tem planos ainda mais cruéis. Tommy e Brendan acabam inscritos no mesmo torneio, um campeonato que pode mudar suas vidas para sempre. O desenlace é inevitável: dois irmãos separados pelo tempo, unidos pelo sangue e pelo esporte, frente a frente em uma batalha onde não há vencedores reais. Tom Hardy e Joel Edgerton entregam atuações intensas, dando vida a personagens que desafiam o espectador a escolher um lado — tarefa quase impossível, pois ambos carregam razões, dores e esperanças legítimas. Nick Nolte, no papel do pai arrependido, completa o trio com uma performance emocionante e contida, tornando a jornada ainda mais densa.
“Guerreiro” não se limita a ser um filme de luta. Ele pulsa como um drama humano sobre redenção, laços rompidos e o preço das segundas chances. E, no fim, talvez a maior vitória dos irmãos seja simplesmente sobreviver ao que os trouxe até ali.
★★★★★★★★★★
