Fenômeno mundial: há 2 anos da estreia, romance está há 609 dias no Top 10 mundial do Prime Video Divulgação / Prime Video

Fenômeno mundial: há 2 anos da estreia, romance está há 609 dias no Top 10 mundial do Prime Video

O amor raramente se submete à razão, desafiando expectativas e normas sociais com uma força quase tirânica. Em “Minha Culpa”, dirigido por Domingo González, esse sentimento assume contornos ainda mais caóticos, transitando entre desejo e interdição. O longa explora o impacto de relações que confrontam convenções, exigindo coragem para atravessar fronteiras invisíveis, mas intransponíveis. González demonstra destreza ao construir personagens cujas trajetórias emocionais carregam autenticidade, mas perde o compasso ao tentar delinear regras morais dentro de um universo que, por natureza, rejeita padronizações.

O amor, nesse contexto, não é um abrigo seguro, mas um campo minado onde duas trajetórias se entrelaçam de forma inesperada. Noah, vivida por Nicole Wallace, não busca um romance clichê, mas sim uma fagulha capaz de transformar sua existência em algo mais vibrante. Contudo, antes de descobrir o que realmente deseja, ela precisa enfrentar os fantasmas que espreitam seu caminho. Seu ponto de partida é uma mala roxa, carregada de memórias que oscilam entre o doce e o amargo. Essa transição ganha peso com a figura de Rafaella, sua mãe, interpretada por Marta Hazas. Diferente de uma antagonista convencional, sua hostilidade é velada, resultado menos de intenções maldosas e mais de uma inconsequência que reflete a superficialidade do meio em que vive.

Quando Noah é conduzida a um lar imponente, pertencente a William Leister (Iván Sánchez), o deslumbramento inicial logo cede espaço para um incômodo latente. A aparência imaculada da nova realidade contrasta com sua sensação de deslocamento, um sentimento que Nicole Wallace traduz com precisão, oscilando entre resistência e submissão. Esse ambiente de luxo é também uma prisão enfeitada, povoada por figuras arrogantes e artificiais, mas é nele que a relação entre Noah e seu meio-irmão Nick, vivido por Gabriel Guevara, se desenha com uma intensidade inegável. O vínculo entre ambos não é forjado em instantes; pelo contrário, cresce de forma gradativa, estabelecendo um campo de tensão entre o inadmissível e o irresistível.

Do segundo ato até seu clímax, González conduz a narrativa com um misto de provocação e vulnerabilidade, abordando os perigos da transgressão sem recorrer a soluções simplistas. A presença de Fran Berenguer como Ronnie, líder de uma gangue que transita entre o poder e a decadência, adiciona camadas ao enredo, reforçando a complexidade dos códigos sociais em jogo. Mas é na dinâmica entre Noah e Nick que o filme encontra seu epicentro, evocando ecos do clássico “As Ligações Perigosas” de Choderlos de Laclos, ao retratar o desejo como força destrutiva e incontrolável.

“Minha Culpa” seduz ao investigar os labirintos emocionais de seus protagonistas, ainda que nem sempre consiga equilibrar intensidade e coerência. González constrói um universo envolvente, mas ocasionalmente vacila ao tentar impor uma moralidade que não se sustenta dentro do próprio contexto narrativo. No final, a obra não apenas sugere que o amor desafia fórmulas e regras, mas também que, ao tentar controlá-lo, se corre o risco de diluir sua verdadeira essência.

Filme: Minha Culpa
Diretor: Domingo González
Ano: 2023
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 6/10 1 1
★★★★★★★★★★