Em meio à efervescente corrida espacial dos anos 1960, “Como Vender a Lua” adota uma abordagem cômica e irreverente para explorar os bastidores da NASA sob uma ótica pouco convencional. Estrelado por Scarlett Johansson e Channing Tatum, o filme combina sátira e entretenimento ao abordar a interseção entre ciência, publicidade e política durante um dos períodos mais marcantes da história.
A trama gira em torno de Kelly Jones (Johansson), uma estrategista de marketing enviada pelo governo para revitalizar a imagem do programa espacial americano. Com a União Soviética à frente na disputa pela conquista lunar e o financiamento da NASA ameaçado, sua missão é transformar astronautas em ícones midiáticos e os lançamentos espaciais em espetáculos de grande apelo popular. Sua estratégia envolve parcerias comerciais com marcas como a joalheria Omega e o suco Tang, garantindo fundos essenciais para a agência.
No entanto, seu trabalho encontra resistência em Cole Davis (Tatum), um engenheiro meticuloso e avesso a distrações, que vê na chegada de Kelly uma ameaça ao rigor científico da NASA. Para ele, a agência deve se dedicar exclusivamente à exploração espacial, e qualquer tentativa de convertê-la em um circo midiático é inaceitável. No entanto, diante da crise orçamentária, até mesmo Davis precisa ceder a medidas pouco ortodoxas — incluindo uma supersticiosa caçada a um gato preto, considerado um presságio de azar nos corredores da instituição.
O choque entre pragmatismo e espetáculo gera uma série de situações cômicas, transformando a rotina dos cientistas e engenheiros. De corredores antes silenciosos, agora repletos de câmeras e reuniões com patrocinadores, à vaga de estacionamento de Davis invadida por equipes de filmagem, a NASA se torna um palco de conflitos entre a lógica científica e a necessidade de atrair o público. Entretanto, por mais que a relação entre Kelly e Davis pareça fadada à colisão, o pragmatismo do engenheiro e a visão estratégica da marqueteira acabam convergindo quando surge um desafio crucial: garantir que a próxima tentativa de pouso na Lua seja um triunfo incontestável.
A reviravolta acontece quando, diante da possibilidade de um fracasso da missão, Kelly sugere a gravação de uma transmissão alternativa. Em uma provocação direta às teorias da conspiração sobre o pouso lunar, surge a ideia de criar um material pré-produzido, pronto para ser exibido caso a missão real não ocorra conforme planejado. A tensão entre a verdade científica e a necessidade de um espetáculo midiático atinge seu ápice, levando a trama a um clímax satírico que brinca com as crenças populares sobre o programa espacial.
Scarlett Johansson entrega uma atuação vibrante e magnética, conferindo à personagem uma energia contagiante que sustenta boa parte do filme. Channing Tatum, por sua vez, interpreta Davis com competência, embora sua atuação careça da expressividade vista em trabalhos anteriores, como “Pisque Duas Vezes”, onde demonstrou maior versatilidade dramática.
Com duas horas de duração, o longa flerta com o exagero ao alongar algumas situações que poderiam ser resolvidas de maneira mais concisa. O humor, ainda que funcional, nem sempre alcança o brilho necessário para sustentar a narrativa por tanto tempo. Apesar disso, “Como Vender a Lua” cumpre sua proposta como uma comédia despretensiosa, equilibrando sátira e entretenimento sem mergulhar em discussões profundas sobre os temas que tangencia. Embora dificilmente seja lembrado como um marco no gênero ou na carreira de seus protagonistas, a obra tem potencial para conquistar um público afeito a histórias leves e carismáticas, garantindo sua presença em programações futuras como um passatempo agradável.
★★★★★★★★★★