O jornalismo sempre exerceu um fascínio singular sobre aqueles que buscam dar voz aos fatos e registrar a história em tempo real. No entanto, a realidade da profissão frequentemente se distancia da idealização televisiva que atrai tantos jovens. Durante minha formação, testemunhei colegas motivados pelo desejo de reconhecimento midiático, mas poucos se mantiveram firmes diante das exigências do ofício. Para mim, o jornalismo nunca foi sobre holofotes, mas sobre a incessante busca pela verdade.
Essa mesma inquietação move Jay Bahadur, protagonista de “Os Piratas da Somália”, filme dirigido por Bryan Buckley e baseado no livro homônimo do próprio Bahadur. Interpretado por Evan Peters, o jovem aspirante a jornalista não possui formação acadêmica na área, mas sua determinação o leva a embarcar em uma jornada ousada. Sem perspectivas profissionais concretas, ele decide viajar para a Somália para investigar a ascensão da pirataria na região e a fragilidade política do país. Inicialmente retratado como um sonhador desajustado, preso ao conforto da casa dos pais e obcecado por uma ex-namorada, Bahadur logo se vê diante do desafio de sua vida.
Seu encontro com Seymour Tolbin (Al Pacino), um veterano do jornalismo, marca um ponto de virada na trama. Tolbin, entre a lucidez e a excentricidade, o incentiva a seguir seu instinto investigativo e o conecta com contatos influentes. Munido de coragem e dinheiro emprestado dos pais (vividos por Melanie Griffith e Alok Tewari), Bahadur desembarca em um país assolado pela miséria e pela guerra.
Na Somália, ele conta com o apoio do filho do presidente, que lhe designa um tradutor e guia, Abdi (Barkhad Abdi). Abdi se revela uma peça-chave, proporcionando acesso a líderes piratas, incluindo Garaad (Mohamed Osmail Ibrahim), um chefe carismático cuja esposa se torna uma aliada inesperada. Durante meses, Bahadur se infiltra no submundo da pirataria, obtendo informações e imagens exclusivas, inclusive do famoso sequestro do capitão Phillips – evento posteriormente retratado no filme estrelado por Tom Hanks. O risco compensa: sua investigação se transforma em um best-seller e abre portas para os principais veículos jornalísticos, consolidando sua carreira sem que ele jamais tenha frequentado uma sala de aula de jornalismo.
Embora intrigante, “Os Piratas da Somália” apresenta lacunas na construção de personagens secundários, o que limita seu impacto narrativo. Além disso, pressupõe um conhecimento prévio sobre a realidade somali, tornando a experiência menos acessível para quem desconhece o contexto geopolítico da região. A ausência de um ritmo acelerado pode frustrar espectadores que esperam um thriller de ação contínua. No entanto, ao mesclar drama, humor e momentos de psicodelia, o filme oferece uma perspectiva singular sobre o jornalismo investigativo, destacando os desafios da profissão e a coragem necessária para buscar a verdade em territórios hostis.
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