Filme com Denzel Washington que permaneceu 428 dias no Top 10 do streaming mundial está na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Filme com Denzel Washington que permaneceu 428 dias no Top 10 do streaming mundial está na Netflix

Denzel Washington retorna ao papel de Robert McCall em “O Protetor 2”, reforçando sua presença no cenário da ação como um intérprete de nuances raras no gênero. Sob a batuta de Antoine Fuqua, seu colaborador habitual, ele encarna um vigilante minucioso, cuja compostura serena esconde um instinto implacável. Contudo, McCall não se resume à força bruta: sua conexão com a literatura clássica revela uma busca silenciosa por equilíbrio, uma tentativa de contrapor sua natureza violenta com gestos de altruísmo. Nesta sequência, essa dualidade se intensifica, mas o caminho trilhado pelo protagonista não oferece respostas definitivas, apenas novas camadas de mistério.

A abertura coloca McCall em ação sobre trilhos turcos, em uma sequência envolvente que remete ao primeiro filme, mas logo o transporta a um cenário mais mundano: sua rotina como motorista de aplicativo. Nesse ambiente, ele se depara com vítimas de injustiças diárias e, sem hesitar, assume a missão de protegê-las, equilibrando sua existência entre a normalidade aparente e os rastros de um passado letal. Seu envolvimento com Miles (Ashton Sanders, de “Moonlight”), um jovem promissor à beira de escolhas perigosas, adiciona outra camada à sua trajetória, aprofundando sua faceta de mentor e protetor.

Embora o filme procure ampliar o escopo emocional do protagonista, o desafio de equilibrar profundidade e ação grandiosa se torna evidente. Washington brilha em momentos de intimidade, especialmente ao aconselhar Miles ou ao se perder nas páginas de “Em Busca do Tempo Perdido”, mas a narrativa frequentemente cede ao exagero. O ápice da trama, situado em meio a um furacão, ilustra bem esse desequilíbrio: o impacto visual impressiona, mas a plausibilidade se esvai, tornando o clímax mais extravagante do que envolvente. Além disso, algumas subtramas desviam a atenção do núcleo da história, como a busca de um sobrevivente do Holocausto por uma obra de arte perdida, que acrescenta peso sentimental sem real necessidade.

O contraste entre as duas facetas de McCall segue como o ponto mais intrigante da narrativa. Ele oscila entre mentor benevolente e executor impiedoso, transitando entre empatia e brutalidade calculada sem nunca revelar completamente sua essência. Washington traduz essa complexidade com precisão, tornando o personagem magnético mesmo quando suas motivações permanecem nebulosas. Ainda assim, a ausência de respostas sobre sua identidade real impede que o filme atinja a profundidade que almeja, deixando McCall como uma figura enigmática cujo destino parece incerto.

Embora “O Protetor 2” apresente refinamentos em relação ao original, ainda não se equipara ao impacto de colaborações mais marcantes entre Washington e Fuqua, como “Dia de Treinamento”. Os melhores momentos estão nos embates emocionais entre McCall e Miles, mas esses lampejos são frequentemente eclipsados por um roteiro que hesita entre o drama introspectivo e o espetáculo explosivo, sem encontrar um ponto de equilíbrio.

No fim, o que sustenta o filme é o talento indiscutível de Denzel Washington, que continua a subverter a figura do herói de ação tradicional. Seu domínio da cena transforma sequências banais em momentos carregados de significado, elevando a experiência mesmo quando a história falha em entregar uma conexão mais sólida. “O Protetor 2” oferece entretenimento sólido e algumas reflexões provocativas, mas não consegue escapar da tensão entre profundidade e espetáculo. Para os admiradores do ator, sua performance por si só já justifica a sessão — e mantém viva a curiosidade sobre os próximos passos de Robert McCall.

Filme: O Protetor 2
Diretor: Antoine Fuqua
Ano: 2018
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★