Embora inúmeros livros alcancem o status de best-seller, poucos escritores conseguem permanecer relevantes ao longo dos séculos. Jane Austen é uma dessas exceções raras. Sua obra não apenas resistiu ao tempo, mas atravessou gerações e fronteiras, consolidando-se como uma referência literária incontestável. Sua influência perdura não só por seu refinado domínio da escrita, mas também por sua capacidade de captar as inquietações femininas com uma abordagem perspicaz e irreverente.
Austen retratava protagonistas que desafiavam padrões sociais e se recusavam a se conformar às expectativas impostas às mulheres de sua época. Em suas narrativas, o casamento não era o desfecho obrigatório, mas uma escolha feita a partir da autonomia e do desejo genuíno. Suas heroínas, inquietas e astutas, tornaram-se símbolos de inconformismo e autodescoberta, ressoando até hoje com leitoras que enxergam nelas um espelho de suas próprias aspirações e desafios.
O longa-metragem “Austenland” traduz esse fascínio por Jane Austen para o cinema, misturando romance e sátira com um toque lúdico. Keri Russell interpreta Jane Hayes, uma mulher cuja devoção pela obra da escritora britânica ultrapassa o entusiasmo comum. Em busca de uma experiência que materialize sua fantasia literária, Jane embarca para a Inglaterra rumo a um resort temático que promete recriar o universo de Austen.
A “Austenland” oferece aos visitantes um mergulho completo no século 19, com figurinos impecáveis, protocolos aristocráticos e um cenário digno dos clássicos da escritora. Cada hóspede assume um papel pré-determinado dentro dessa ambientação meticulosamente orquestrada. Contudo, a imersão tem diferentes níveis: enquanto alguns compram pacotes luxuosos e vivem como nobres, outros, como Jane, precisam se contentar com uma posição mais modesta dentro da hierarquia fictícia.
Durante sua estadia, Jane faz amizade com Elizabeth (Jennifer Coolidge), uma excêntrica entusiasta do universo austeniano que, ao contrário dela, optou pelo pacote mais caro e desfruta de privilégios aristocráticos dentro da encenação. Paralelamente, Jane se vê dividida entre dois homens: Martin (Bret McKenzie), um empregado charmoso que parece fugir ao roteiro preestabelecido, e Henry Nobley (JJ Feild), um aristocrata taciturno cuja postura remete diretamente ao icônico Sr. Darcy de “Orgulho e Preconceito”.
Entre jantares requintados, bailes encantadores e diálogos meticulosamente ensaiados, Jane começa a questionar o que é real e o que faz parte do teatro elaborado do resort. A linha entre ficção e realidade se torna cada vez mais difusa, levando-a a refletir sobre seus próprios anseios e sobre a idealização do amor.
Mais do que uma homenagem à obra de Austen, “Austenland” brinca com o encantamento e a obsessão que seus livros despertam. A narrativa combina humor e romance com uma leveza cativante, criando uma experiência cinematográfica divertida e nostálgica. Ao final, a história não apenas celebra o legado de Austen, mas também propõe uma reflexão sobre as expectativas românticas e a maneira como a ficção pode influenciar a visão que temos sobre o amor e sobre nós mesmos.
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