A produção bilionária da Netflix que superou A Casa do Dragão, da HBO Max, já é uma das séries mais caras da história do streaming Divulgação / Netflix

A produção bilionária da Netflix que superou A Casa do Dragão, da HBO Max, já é uma das séries mais caras da história do streaming

A busca pela liberdade é uma das mais antigas aspirações humanas. Mas o que ocorre quando esse desejo se esgarça a ponto de se tornar um eco dentro de outro, uma ilusão sobreposta? O título do célebre poema de Edgar Allan Poe (1809-1849), um de seus últimos, ajusta-se perfeitamente à essência de “O Problema dos 3 Corpos”, uma imersão turva em um futuro onde o obscurantismo age como uma barreira ao entendimento, tornando-se um entrave inerente à própria condição humana. Inspirada no romance de ficção científica escrito pelo chinês Liu Cixin em 2006, a série desenvolvida por David Benioff, Alexander Woo e D. B. Weiss manipula o tempo, recuando e avançando em sua linha narrativa, satisfazendo quem aprecia enredos complexos, marcados por enigmas incessantes e teorias cada vez mais elaboradas, que se entrelaçam conforme questões emergentes vão se acumulando, tornando-se progressivamente mais prementes.

Ciência e fé raramente se conciliam, e o progresso costuma parecer aceitável apenas enquanto a ciência se mantém restrita a suas funções designadas — um argumento que, muitas vezes, disfarça uma aversão ao conhecimento e uma inclinação autoritária em prol das crenças pessoais, como ficou evidente no recente surto global de covid-19. Essa contradição não é novidade, e a história está repleta de exemplos de tensões entre saber e dogma. Da mesma forma, a solidão transcende o desejo de isolamento; há momentos em que o afastamento do mundo torna-se essencial, ainda que de maneira simbólica, mesmo que por um breve lapso de tempo. Esquecer o excesso é, por vezes, a única forma de resgatar o essencial, e a introspecção profunda pode ser a chave para enxergar com clareza o caminho adiante.

O episódio inicial traz uma cena brutal: um físico é publicamente humilhado em plena Revolução Cultural Chinesa (1966-1976), sob o olhar da filha, Ye Wenjie. O impacto desse momento molda o que se desenrola seis décadas depois, quando o mundo se vê diante de um enigma perturbador: cientistas começam a morrer em circunstâncias misteriosas. Entre os eventos mais intrigantes, Auggie Salazar passa a enxergar uma contagem regressiva brilhante diante de seus olhos, um fenômeno inexplicável que desencadeia um labirinto de alucinações, no qual figuras aparecem e desaparecem sem deixar rastros. A personagem vivida por Eiza González encarna a inquietação que permeia a série, enquanto o carismático Da Shi, interpretado com maestria por Benedict Wong, conduz uma investigação repleta de reviravoltas. Benioff, Woo e Weiss estruturam esse universo com um senso de vertigem, fazendo com que a percepção da realidade seja constantemente desafiada.


Série: O Problema dos 3 Corpos
Criação: David Benioff, Alexander Woo e D. B. Weiss
Ano: 2024
Gêneros: Thriller 
Nota: 9/10