Uma coprodução entre Colômbia, Israel e Polônia, “Meu Vizinho Adolf” é um drama ambientado na Argentina dos anos 1960. Já se passaram mais de duas décadas desde o fim da Segunda Guerra Mundial quando o judeu polonês Polsky, que fugiu para a América do Sul para escapar do Holocausto — no qual perdeu toda a sua família —, se depara com uma descoberta aterradora: seu vizinho pode ser ninguém menos que Adolf Hitler.
Não, não estamos diante de uma versão alternativa dos desdobramentos da Segunda Guerra no estilo de “Bastardos Inglórios”. Aqui, o cineasta Leon Prudovsky, que dirige e roteiriza o longa, não reescreve a história de forma fantasiosa, embora crie suas próprias elucubrações por meio da mente de seu protagonista.
Polsky é um homem idoso, solitário e ranzinza, que trata com desprezo todos que batem à sua porta e nutre aversão por cães. Sua amargura é reflexo do sofrimento vivido anos antes, quando o nazismo transformou sua vida em uma tragédia irreparável. Tornado um pária em seu próprio país, perdeu absolutamente tudo: desde sua dignidade até as pessoas que mais amava.
Os traumas de Polsky são profundos, e talvez seja exatamente por isso que sua teimosia seja implacável. Apesar das inúmeras negativas da embaixada em investigar o suposto Adolf Hitler, que na verdade se apresenta como Herzog (Udo Kier), o vizinho do lado, ele está determinado a provar suas suspeitas. Convicto, decide empreender sua própria investigação para desmascará-lo.
Obcecado pela ideia, Polsky passa a vigiar Herzog incansavelmente pela janela, fotografando-o em situações que possam comprometê-lo. Observa-o pintando com a mão esquerda — assim como fazia Hitler — e brincando com seu pastor-alemão, raça que o ditador costumava criar.
Quando a espionagem não se mostra suficiente, Polsky decide se infiltrar na vida de Herzog e se tornar seu “amigo”. Mas, na verdade, ele se comporta como um agente duplo, ansioso para flagrar o vizinho em alguma atitude reveladora. A convicção de Polsky se baseia em um momento específico de sua vida: em 1934, ele viu Adolf Hitler pessoalmente. Agora, diante de Herzog, não tem dúvidas de que os olhos do homem à sua frente são os mesmos que presenciou naquele dia.
O filme leva as desconfianças de Polsky ao limite, tornando suas ações cada vez mais extremas. O desenrolar dos acontecimentos oscila entre o cômico e o dramático, à medida que ele e Herzog se envolvem em uma relação tão absurda quanto inesperada. “Meu Vizinho Adolf” constrói uma narrativa que aborda trauma, vingança e superação, desafiando a visão tradicional de mocinhos e vilões. Nem sempre os heróis são tão virtuosos, nem os supostos antagonistas são inteiramente maus. Pelo menos, no que diz respeito ao enigmático senhor Herzog.
★★★★★★★★★★