O maior fracasso de 2024 virou um fenômeno no Prime Video — e agora ninguém para de assistir Divulgação / Columbia Pictures

O maior fracasso de 2024 virou um fenômeno no Prime Video — e agora ninguém para de assistir

Diante do histórico irregular das adaptações dos antagonistas do Homem-Aranha, muitos espectadores receberam com desconfiança a nova incursão da Sony no universo dos vilões do herói. Depois da recepção fria a “Morbius“ e “Madame Web“, o estúdio insiste na abordagem de personagens sem conexão direta com Peter Parker. Agora, a aposta recai sobre “Kraven, o Caçador“, uma tentativa de conferir um tom mais visceral ao icônico predador dos quadrinhos. Aaron Taylor-Johnson assume o protagonismo com seu histórico de papéis que exigem fisicalidade, acompanhado por dois atores premiados com o Oscar e sob a direção de um cineasta experiente. O resultado, no entanto, oscila: enquanto certas sequências mantêm o público imerso na brutalidade do caçador, outras sofrem com efeitos visuais inconsistentes e um roteiro que, por vezes, se perde nos próprios excessos.

A trama se inicia em uma prisão russa, onde Sergei Kravinoff se infiltra como um detento comum até eliminar sem piedade um criminoso influente que usufruía de privilégios. Essa execução marca o início de uma fuga implacável, revelando sua força e destreza que remetem, ainda que vagamente, às habilidades do Homem-Aranha, mas sem qualquer traço de heroísmo. O personagem se distingue pelo tom sarcástico com que admite que “caça pessoas“, deixando evidente que sua brutalidade decorre de um passadocom marcas profundas.

Por meio de flashbacks, o filme explora sua juventude nos Estados Unidos ao lado do meio-irmão Dmitri, sob a tutela do tirânico Nikolai Kravinoff. Interpretado por Russell Crowe, o patriarca impõe uma educação brutal, culminando em uma caça em Gana que moldaria Sergei para sempre. A ordem do pai “Atirem para matar. Divirtam-se” traduz sua frieza e serve de prenúncio para a transformação do jovem. O ponto de inflexão ocorre quando Sergei é atacado por um leão — efeito visual aquém do esperado, mas narrativamente relevante. Seu sangue se mistura ao do animal, enquanto uma jovem Calypso aplica um elixir enigmático que catalisa sua mutação. Mais do que um elemento de fantasia, o evento solidifica o desprezo de Sergei pelo pai e acentua sua desconexão com o mundo civilizado.

J. C. Chandor conduz a direção mesclando um ambiente urbano com nuances místicas, buscando exaltar a força bruta do protagonista. Taylor-Johnson se destaca em sequências de combate intensas, mas os efeitos visuais deixam a desejar quando abusam do chroma key sem refinamento. A insistência em uma classificação indicativa elevada resulta em um excesso de linguajar chulo e violência graficamente exagerada, comprometendo o impacto da narrativa. Em vários momentos, os personagens tentam forjar uma agressividade artificial com frases de efeito que nem sempre convencem.

O filme amplia seu escopo ao introduzir antagonistas como Dmitri, que exibe traços do Camaleão, Aleksei Sytsevich, cuja repulsa pelos Kravinoff antecede sua mutação em uma fera semelhante a um rinoceronte, e Foreigner, que utiliza estratégias de manipulação psicológica. Já Calypso, vivida por Ariana DeBose, surge como uma advogada envolta em ilegalidades, mas sem o misticismo das HQs, o que reduz seu impacto na trama.

Aaron Taylor-Johnson se esforça para elevar o filme, entregando uma performance fisicamente convincente. No entanto, o roteiro deixa de lado as nuances que tornariam Kraven uma figura mais intrigante. A jornada do protagonista se reduz a uma série de confrontos violentos, carecendo de aprofundamento sobre sua estratégia ou motivações mais complexas. Ao evitar desenvolver o lado calculista do vilão, a trama limita seu potencial a uma sucessão de combates estilizados.

No final, “Kraven, o Caçador“ se posiciona como um projeto arriscado dentro do “Sony”s Spider-Man Universe“. Embora supere “Morbius“ e “Madame Web“ em carisma e intensidade, ainda sofre com uma narrativa dispersa. Russell Crowe diverte em sua atuação exagerada, enquanto Ariana DeBose e Fred Hechinger são subaproveitados em papeis que prometiam mais. Com o futuro do SSU ameaçado por sucessivos fracassos comerciais, este longa pode marcar a despedida da iniciativa. O filme entrega brutalidade e presença de cena, mas desperdiça a oportunidade de explorar as camadas psicológicas que poderiam transformar Kraven em um vilão realmente memorável.

Filme: Kraven, o Caçador
Diretor: J.C. Chandor
Ano: 2024
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★