Do mesmo roteirista de “O Regresso”, filme que deu Oscar a Leonardo DiCaprio, série da Netflix é uma das mais sangrentas e brutais que você vai ver Divulgação / Film 44

Do mesmo roteirista de “O Regresso”, filme que deu Oscar a Leonardo DiCaprio, série da Netflix é uma das mais sangrentas e brutais que você vai ver

A colonização das Américas está intrinsecamente ligada à violência. Embora o processo tenha ocorrido de forma distinta nos Estados Unidos e na América Latina, ambos os contextos foram marcados por expropriações, confrontos e imposição cultural. Enquanto Portugal e Espanha dominaram suas colônias com brutalidade, impondo a cristianização e explorando as populações nativas, a Inglaterra adotou uma abordagem mais gradual nos territórios que viriam a formar os EUA. Ainda assim, a expansão territorial do país não esteve isenta de conflitos, guerras e escravização. O território dos Estados Unidos só alcançou sua forma atual em 1959, após sucessivas disputas, tratados e anexações. Hoje, além dos 48 estados contíguos, o país inclui o Alasca, o Havaí e territórios como Porto Rico, Guam e as Ilhas Marianas do Norte.

A minissérie “Terra Indomável”, da Netflix, mergulha nesse cenário de turbulência, focando-se no Oeste americano em 1857. A trama se desenrola durante a Guerra de Utah e aborda o Massacre de Mountain Meadows, um dos episódios mais sombrios desse período, onde a disputa por territórios envolveu nativos, colonos, mórmons e o governo dos EUA. Desde os primeiros episódios, a narrativa densa e multifacetada pode desafiar o espectador, dada a complexidade das relações de poder e dos conflitos que permeiam a história.

Criada por Mark L. Smith, roteirista de “O Regresso”, a série opta por um realismo brutal. As cenas de violência são diretas, sem atenuantes ou concessões, retratando um Oeste onde sobreviver exigia resiliência e decisões impiedosas. O ritmo intenso e a crueza visual reforçam a sensação de desamparo e brutalidade que dominavam a época.

A história é conduzida por personagens fictícios entrelaçados com figuras históricas reais. Sarah Rowell (Betty Gilpin) assume o protagonismo como uma mãe determinada a conduzir seu filho Devin (Preston Motta) a uma cidade onde o pai da criança estaria. Sua jornada é marcada por perigos e reviravoltas, obrigando-a a buscar a proteção de Isac (Taylor Kitsch), um mercenário solitário e enigmático. No caminho, eles encontram Two Moons (Shawnee Pourier), uma jovem nativa mutilada após matar seu agressor. A improvável aliança entre os três revela dinâmicas de desconfiança e sobrevivência em meio ao caos.

Antes desse encontro, Sarah e Devin estavam sob a proteção de Jacob Pratt (Dane DeHaan), um mórmon que busca estabelecer uma nova vida com sua esposa Abish (Saura Lightfoot-Leon). O sonho do casal é abruptamente interrompido quando seu assentamento é atacado por uma coalizão de mórmons e nativos Paiute, resultando na morte de centenas e na separação dos personagens. Abish é capturada pelos nativos Shoshone, enquanto Jacob inicia uma busca desesperada para resgatá-la.

Ao longo da narrativa, a série expõe não apenas os horrores da guerra, mas também os dilemas morais enfrentados por cada grupo. A colonização não produziu apenas vítimas e opressores claramente definidos: todos estavam imersos em uma luta pela sobrevivência, manipulados por discursos religiosos e políticos que justificavam atrocidades. A relação de Abish com os Shoshone, por exemplo, ilustra as ambiguidades desse período, onde alianças improváveis e traições inesperadas eram constantes.

Diferente de produções que romantizam o Velho Oeste, “Terra Indomável” rejeita simplificações. Não há heróis ou vilões unidimensionais; apenas indivíduos presos a um contexto de violência, onde cada escolha pode significar vida ou morte. Com um roteiro afiado e atuações intensas, a minissérie se destaca por sua abordagem crua e implacável. O resultado é um retrato visceral de um período marcado pela disputa territorial, pela manipulação ideológica e pela luta desesperada pela sobrevivência.

Filme: Terra Indomável
Diretor: Mark L. Smith
Ano: 2024
Gênero: Drama/Épico/Faroeste
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★