Em meio à corrida pelo Oscar 2025, um nome desponta com força entre os favoritos: “Anora”. Aclamado em festivais de prestígio como Cannes, Toronto e Nova York, o novo longa de Sean Baker — celebrado por sua abordagem realista em “Projeto Flórida” e “Red Rocket” — reinventa a comédia romântica ao romper com as fórmulas previsíveis do gênero.
Longe do arquétipo de contos de fadas modernos, “Anora” traça um caminho próprio, distante das narrativas convencionais. No centro da trama, Mikey Madison brilha como Ani, uma jovem prostituta que trabalha em um clube de striptease e se acostumou à rotina de clientes de meia-idade sem grandes surpresas. No entanto, sua trajetória toma um rumo inesperado quando Ivan (Mark Eydelshteyn) surge em sua vida. O jovem herdeiro russo, de passagem pelos Estados Unidos, faz um pedido inusitado: deseja uma acompanhante que fale seu idioma. Ani, fluente em russo, embora não perfeitamente, se encaixa no perfil e aceita a proposta.
O primeiro encontro entre os dois se dá dentro dos limites profissionais, mas Ivan, dono de uma segurança desproporcional à sua aparência juvenil, rapidamente se interessa por mais. Sem hesitação, ele a convida para um novo encontro, desta vez fora do ambiente do clube. No dia seguinte, Ani se vê em uma luxuosa mansão pertencente à poderosa família de Ivan, onde a relação entre eles evolui para algo que flutua entre o profissional e o pessoal. O que começa como um arranjo comercial se desdobra em uma relação ambígua, na qual os limites entre interesse e afeto se tornam cada vez mais difusos.
Apesar da imaturidade evidente de Ivan, Ani se sente atraída por sua ousadia e pela forma como ele a trata — com atenção e sem julgamentos. O vínculo entre eles se intensifica, e logo ela passa a fazer parte de sua rotina hedonista, repleta de festas suntuosas, noites sem fim e uma sucessão de excessos. Ainda que a remuneração continue sendo um fator presente, a dinâmica entre ambos sugere algo que vai além de um simples acordo financeiro, colocando Ani diante de um dilema emocional que desafia suas próprias percepções sobre amor, independência e identidade.
O impacto de “Anora” não se restringe ao enredo. A direção meticulosa de Sean Baker imprime um realismo cru, que humaniza seus personagens e questiona os limites das convenções românticas. Não à toa, o filme arrancou uma ovação de 10 minutos em Cannes, culminando na conquista da Palma de Ouro. O desempenho de Mikey Madison, visceral e multifacetado, consolida sua posição como uma das favoritas na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz.
Mais do que uma comédia romântica, “Anora” subverte as expectativas e renova o gênero, desafiando o público a reconsiderar os contornos do afeto e do desejo em um mundo onde as relações são frequentemente mediadas pelo dinheiro e pela aparência. Com diálogos afiados, personagens complexos e um olhar crítico sobre a hipocrisia social, o longa se firma como uma das obras mais provocativas do ano, garantindo sua relevância não apenas na temporada de premiações, mas no cinema contemporâneo como um todo.
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