Homens que precisam provar sua inocência enquanto enfrentam o peso de uma condenação injusta despertam empatia imediata. Em “Verdadeira Identidade”, thriller dirigido por Michihito Fujii, o eixo central da trama se ancora em três homicídios violentos, cujos únicos testemunhos vêm de uma senhora com a mente já fragilizada pela demência. O enigma se desenrola à medida que a narrativa dosa tensão e surpresa, mantendo o espectador refém da incerteza.
Como já demonstrara em “A Saudade que Fica” (2024) e “Família Yakuza” (2021), Fujii lapida o drama humano com precisão meticulosa, transformando a dor, a revolta e a mágoa em um jogo psicológico que desafia expectativas. Seu protagonista, um anti-herói à deriva no caos, caminha por um enredo onde os destinos parecem ser definidos pelo acaso, mas escondem um desenho meticuloso. Com o apoio do roteirista Kazuhisa Kotera, o filme se apropria do mistério do romance homônimo de Tamehito Somei, adicionando violência e reviravoltas pontuais, até que a verdade irrompa no momento exato.
Keiichi Kaburagi inicia sua jornada atrás das grades, mas não pretende permanecer ali por muito tempo. Ele arquiteta um plano de fuga e, ao colocá-lo em prática, torna-se alvo de uma caçada implacável conduzida por Seigo Matanuki, o policial responsável por sua captura. Ryūsei Yokohama e Takayuki Yamada dominam os primeiros instantes da projeção, conduzindo a trama até que figuras inesperadas entrem em cena. Entre devaneios e realidades distorcidas, o filme se permite flutuar entre a lucidez e o onírico.
A fuga leva Keiichi a um canteiro de obras, onde estabelece um vínculo com Kazuya, papel de Shintaro Morimoto. Quando seu disfarce se desfaz, ele parte para Tóquio e encontra emprego como escritor freelancer, o que serve como ponto de virada tanto na investigação quanto na sua própria busca por redenção. Fujii, então, costura a resolução do enigma e introduz um romance que alivia, ao menos temporariamente, as tensões do percurso. Keiichi e Sayaka, editora vivida por Riho Yoshioka, formam um casal que destoa das convenções habituais, o que confere ainda mais originalidade ao longa.
Da segunda metade em diante, a narrativa aposta em sequências de ação elaboradas e efeitos visuais que ressaltam a aura quase mitológica do protagonista. O domínio de Yokohama sobre o papel arrasta o público para a estética singular de Fujii, que brinca com a ilusão de um sistema de justiça funcional. Ainda que o filme possa ser interpretado como uma defesa incondicional da engrenagem judicial, sua construção narrativa é sólida o bastante para que cada espectador tire suas próprias conclusões — por mais insólitas que possam parecer.
★★★★★★★★★★