Se você gosta de Fado, não leia esse texto

Se você gosta de Fado, não leia esse texto

Eu gosto muito de comida portuguesa. De vez em quando, vou a restaurantes portugueses para comer bacalhau, seja em forma de bolinhos ou postas, polvo à lagareira, arroz caldoso e outras maravilhas da culinária lusitana. Sem falar das sobremesas — amo os doces portugueses, como ovos moles e toucinho do céu.

Mas confesso que vou menos do que gostaria aos restaurantes dos nossos irmãozinhos por conta de um detalhe. O problema é que os donos desses estabelecimentos acham que, para criar uma atmosfera autêntica e nos fazer sentir como se estivéssemos em Lisboa, é preciso colocar uma trilha sonora típica. E o que toca no sistema de som do restaurante? Acertou quem respondeu: fados!

Um fado seguido do outro. Um fado mais melancólico que o outro! E eu vou ficando triste. Mesmo comendo um bacalhau maravilhoso, vou me sentindo para baixo. Por mais que as sardinhas e alheiras me botem para cima, a melancolia me domina. Vou perdendo o ânimo, mesmo saboreando um toucinho do céu digno dos deuses.

Então, começo a achar que o meu vinho está um pouco aguado e logo percebo que foram minhas lágrimas que caíram na taça. Será que a única música portuguesa que existe é o fado? Não há uma música popular portuguesa? Um rock português? Um pop português?

Ah, mas existe o “novo fado”, o “fado moderno”, Carminho e sei lá mais quem. Mas, no fim, é só uma melancolia mais moderninha, uma tristeza mais up-to-date.

Quando a gente vai a Portugal e se senta em um restaurante para apreciar a maravilhosa culinária lusitana, não é fado que rola nos alto-falantes. Eles não precisam nos convencer de que estamos em Lisboa, porque nós já estamos em Lisboa! E lá, sim, podemos saborear a comida sem nos sentirmos melancólicos.