Para rir sem parar: o primeiro filme do Prime Video em 2025 a alcançar o top 1 mundial no dia da estreia Glen Wilson / Amazon Content Services

Para rir sem parar: o primeiro filme do Prime Video em 2025 a alcançar o top 1 mundial no dia da estreia

Will Ferrell e Reese Witherspoon conquistaram um lugar de destaque na cultura pop ao longo de mais de vinte e cinco anos, cada um trilhando sua própria jornada de sucesso no cinema e na televisão. Ele é lembrado por sua comicidade ácida no “Saturday Night Live” e por protagonizar longas que marcaram época na comédia dos anos 2000, além de esporádicas participações em dramas que surpreenderam fãs e críticos. Ela, por sua vez, chamou atenção em produções dos anos 1990 e se consagrou ao estrelar obras como “Legalmente Loira” e “Johnny & June”, além de consolidar seu prestígio na TV em séries de renome. Embora os dois tenham feito uma participação conjunta no programa “SNL” em um número musical que desafiou qualquer senso de inocência, só agora se reencontram em um filme de longa duração. A produção em questão, “Casamentos Cruzados”, retoma a veia cômica de ambos, fazendo jus à fama de “conforto certeiro” que o público costuma associar a seus trabalhos.

No novo projeto, o diretor Nicholas Stoller — responsável por filmes conhecidos pela mistura equilibrada de humor rasgado e reflexões familiares — entrega uma trama que coloca dois núcleos familiares diante de um transtorno inevitável: a reserva duplicada de um mesmo local para dois casamentos. A comédia surge justamente das tentativas de Margot (Witherspoon) e Jim (Ferrell) em evitar um desastre total. Ela, uma executiva de TV que produz realities extravagantes como “It It Dead?” e “Dirty Thirties”, quer oferecer à irmã mais nova, Neve (Meredith Hagner), um evento impecável. Ele, por sua vez, é um pai viúvo empenhado em realizar a cerimônia perfeita para a filha Jenni (Geraldine Viswanathan), que ficará noiva de Oliver (Stony Blyden). Ambos descobrem, tarde demais, que escolheram a charmosa, porém isolada, Palmetto House para a mesma data.

Conforme Margot e Jim tentam dividir o espaço, a situação avança por cenas que alternam confusão e ternura. O gerente do hotel (Jack McBrayer) é um retrato vivo do caos, demonstrando um nervosismo crescente diante de cronogramas que colidem e de solicitações que não param de surgir. A faísca dessa convivência forçada resulta em situações de humor corporal — em especial, um incidente em um píer que se torna um marco do filme — e instantes de vergonha alheia, como o número musical de Jim e Jenni no jantar de ensaio, que deixa a plateia constrangida. O desafio de gerenciar o vaivém de convidados, decidir horários e planejar até a posição do pôr do sol serve de base para as confusões típicas de uma comédia de casamento. Não faltam, evidentemente, referências a bolos prestes a cair e pistas de dança abarrotadas de gente.

O roteiro, no entanto, não se sustenta apenas em trapalhadas. Há um esforço para construir relações verossímeis, abrindo espaço para cenas que expõem a dinâmica familiar de forma autêntica. Jim, ainda abalado pela perda da esposa, dedica toda sua energia a Jenni, temendo que o casamento a afaste. Margot, em contrapartida, faz de tudo para que sua irmã desfrute de um dia perfeito, mas precisa lidar com conflitos passados dentro da própria família, que ressurge ali na ilha. A intenção de Stoller é equilibrar a comédia mais escrachada — repleta de palavrões e momentos embaraçosos — com passagens quase contemplativas, permitindo que os diálogos se estendam e as emoções se desenvolvam. Em certos pontos, essa combinação atinge um tom genuíno, enquanto em outros se percebe uma mudança brusca de estilo, quase descolada da narrativa principal.

Um aspecto que pode reduzir o impacto cômico está na caracterização essencialmente benevolente dos protagonistas. Como Margot e Jim demonstram boa índole desde o primeiro instante, faltam antagonismos sólidos que tragam complexidade ao enredo. Algumas intrigas soam mecânicas, a exemplo do rompante de indignação de Jim quando escuta Margot criticando sua maneira de criar a filha. Ainda assim, o filme mantém um ritmo envolvente, sobretudo graças à sintonia entre Witherspoon e Ferrell. A presença de participações especiais no elenco de apoio enriquece a experiência, e uma canção pop dos anos 1980 — ressuscitada nos créditos finais — converte o encerramento em uma festa musical que faz o público permanecer atento até o último segundo.

Em termos de inspiração, “Casamentos Cruzados” remete à fórmula de sátiras hoteleiras como “The White Lotus”, mas sem mortes nem conspirações. A atração principal aqui é a sucessão de peripécias gerada pela dupla reserva do espaço, servindo como palco para trocas de farpas, lapsos de julgamento e improvisos que remetem às grandes comédias românticas de outrora. O pano de fundo familiar propicia os contornos dramáticos necessários para equilibrar as risadas com doses medidas de sensibilidade, ainda que o resultado pareça por vezes incerto quanto à sua verdadeira essência: abraçar de vez o humor pastelão ou adotar uma perspectiva mais amadurecida sobre laços afetivos.

Mesmo que se identifique potencial para um desenvolvimento ainda mais arrojado, o longa se sustenta graças ao carisma de Will Ferrell e Reese Witherspoon. Ver os dois contracenando, depois de tanto tempo desde a participação conjunta no “SNL”, dá sentido a toda a expectativa: eles protagonizam cenas que oscilam entre a ironia e a doçura, puxando o espectador para uma experiência descontraída. A leveza que se desprende dessa combinação reforça a ideia de que ambos representam, ao longo de suas carreiras, um tipo de entretenimento que o público procura para relaxar e se divertir.

No fim das contas, o filme é o que se espera de um encontro entre essas duas referências cômicas. Ainda que a narrativa apresente falhas na transição entre farsa e reflexão, o conjunto entrega boa parte do que promete: calor humano, diálogos espirituosos e aquele conforto quase automático que se obtém ao assistir a rostos já queridos em tela. A possibilidade de vê-los novamente dividindo o protagonismo em projetos futuros se torna algo bastante atraente, pois, se “Casamentos Cruzados” não atinge todo o seu potencial, ao menos coloca em evidência uma parceria que merece ser revisitada. Nesse sentido, o público ganha um presente que, mesmo sem reinventar o gênero, traz a agradável sensação de que, por algumas horas, é possível esquecer o mundo lá fora e dar boas risadas junto a dois mestres da comédia contemporânea.

Filme: Casamentos Cruzados
Diretor: Nicholas Stoller
Ano: 2025
Gênero: Comédia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★