M. Night Shyamalan ocupa uma posição singular no cinema contemporâneo, consolidando-se como um mestre do suspense psicológico. Sua identidade cinematográfica é marcada por narrativas meticulosamente construídas e reviravoltas inesperadas, elementos que o diferenciam no cenário hollywoodiano. Embora tenha raízes indianas, sua obra se alinha fortemente à estética e ao estilo narrativo dos Estados Unidos, onde construiu sua carreira e se afastou das influências do cinema de seu país de origem. Sua assinatura criativa transita entre o mistério e a tensão crescente, características que lhe garantiram notoriedade global.
A ascensão de Shyamalan ao estrelato ocorreu com “O Sexto Sentido”, um fenômeno cultural que redefiniu sua trajetória e estabeleceu sua reputação como um dos grandes contadores de histórias do suspense. Embora títulos como “A Vila”, “Corpo Fechado” e “Fragmentado” tenham ampliado sua base de admiradores, sua carreira é marcada por oscilações entre aclamação e recepção morna. “Armadilha”, seu mais recente trabalho, exemplifica essa dualidade, dividindo opiniões entre críticos e espectadores.
Em “Armadilha”, Josh Hartnett assume o papel de Cooper, um bombeiro respeitado por sua comunidade e pai dedicado à sua filha adolescente, Riley, interpretada por Ariel Donoghue. Cooper, à primeira vista, personifica o arquétipo do cidadão exemplar. A trama ganha impulso quando ele decide levar Riley a um show da popstar Lady Raven, vivida por Saleka Shyamalan, filha do diretor. O evento, no entanto, carrega uma tensão latente que se intensifica à medida que Cooper percebe um esquema de segurança reforçado. Sua curiosidade o leva a interpelar um vendedor de produtos do evento, e a revelação é alarmante: a polícia acredita que um assassino em série, conhecido como “O Açougueiro”, está no local.
A narrativa atinge um ponto de inflexão quando Shyamalan subverte as expectativas do público ao revelar que Cooper não é apenas um espectador inocente – ele é o próprio Açougueiro. A história então se desenrola sob o prisma de sua tentativa desesperada de manter sua fachada intacta enquanto elabora uma rota de fuga, tudo isso sem despertar suspeitas de Riley ou das autoridades. O jogo de aparências se torna cada vez mais arriscado conforme o cerco se fecha e a tensão se acumula.
No clímax da história, Cooper utiliza sua influência para proporcionar a Riley um encontro exclusivo com Lady Raven, uma manobra que, ao mesmo tempo, lhe oferece uma oportunidade para escapar. No entanto, ao contrário de outros trabalhos de Shyamalan, conhecidos por finais arrebatadores, “Armadilha” opta por um desfecho previsível que carece do impacto emocional esperado. A atuação de Hartnett, embora eficaz, por vezes transparece uma inquietação que compromete a verossimilhança do suspense.
O filme deixa em aberto a possibilidade de uma continuação, mas sua recepção morna sugere um futuro incerto para essa proposta. “Armadilha” reforça a natureza cíclica da carreira de Shyamalan, onde momentos de inovação são alternados com projetos que não alcançam o mesmo brilho. Embora continue a ser um dos diretores mais reconhecidos do gênero, este longa evidencia que a fórmula que um dia o consagrou pode não ser suficiente para garantir o mesmo êxito no presente.
★★★★★★★★★★