Os excessos da juventude vem se tornando uma obsessão para Magnus von Horn. O sueco, há doze anos radicado na Polônia, encontra poesia na violência, como prova “A Garota da Agulha” (2024), indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025 — ainda que em “The Here After” essa impressão esfume-se um pouco, mas continue lá, doendo. A história de um delinquente juvenil que tenta retomar a vida após uma temporada num reformatório, mas só encontra ódio e planos de vingança aos quais vai engendrando respostas cruentas é contada de uma forma incomodamente lírica, até que estrangule-se de uma vez por todas a margem para um humanismo qualquer. O texto repleto de parábolas de Von Horn chega aonde deveria, porém não sem antes tecer considerações deontológicas e matadoras acerca sobre miudezas tais como livre-arbítrio, empatia, amor-próprio, contrabalançadas com o sangue da intolerância.
O diretor dá algumas pistas a respeito do que pretende em tomadas longas, durante as quais os atores vão situando seus personagens por meio de diálogos quase ingênuos, todavia carregados de terceiras intenções. Depois que John é buscado pelo pai, Martin, e eles tomam o rumo de casa, resta claro para o primogênito que nada jamais será como antes. Quando Martin pede que John afivele o cinto de segurança e o garoto continua no celular, decerto fascinado com tudo aquilo de que não pudera desfrutar, completamente alheio a qualquer interação, o pai freia o carro sem prévio aviso, e nos constrangemos todos. Ao sentarem-se à mesa para jantar, Filip, o irmão vivido por Alexander Norgren, quer saber se no banho o sabonete caía com frequência, e por aí se vê que John deverá habituar-se com o desprezo e o escárnio geral, uma bomba-relógio que não tarda a explodir.
Von Horn estica a corda, brincando com as emoções do público, que ora condena as ações pretéritas de John, mas também não deixa de manifestar sua indignação diante da perseguição implacável e covarde da população da pequena cidade rural onde se passa a trama. O anti-herói recebe olhares de repugnância, ouve toda a sorte de impropérios, é esbofeteado em mercearias, e, claro, torna-se presa fácil dos colegas da escola onde estudava antes dos acontecimentos que justificam o filme — numa dinâmica bastante similar à usada por Lynne Ramsay para elaborar a personagem de Tilda Swinton em “Precisamos Falar sobre o Kevin” (2011) —, apresentados pelo diretor sem afobação, malgrado tudo transcorra em ágeis 102 minutos. Ulrik Munther e Mats Blomgren carregam o longa nas costas, ainda que disponham da ajuda de coadjuvantes de peso a exemplo de Wieslaw Komasa, na pele de um avô nada amistoso. Com “The Here After”, Magnus von Horn corrobora a máxima que diz que o passado nem sempre passa. Ainda que alguns realmente mereçam um novo amanhã.
★★★★★★★★★★