Novo filme de Michihito Fujii na Netflix vai te deixar com o coração na boca e os olhos pegando fogo Divulgação / Shochiku

Novo filme de Michihito Fujii na Netflix vai te deixar com o coração na boca e os olhos pegando fogo

Homens que lutam por justiça, da qual depende sua liberdade ou uma pena perpétua por um crime que não cometeram, ganham a simpatia do público sem muito esforço. Três assassinatos brutais, testemunhados por uma senhora já bastante confusa por uma demência avançada, prestam-se a fio narrativo de “Verdadeira Identidade”, o novo thriller de Michihito Fujii, mestre no assunto.

Como fizera em “A Saudade que Fica” (2024) e “Família Yakuza” (2021), o diretor transforma em sofisticada poesia as emoções da morte, dor, mágoa, inconformidade, revolta, brincando com as expectativas de quem assiste quanto ao que pode acontecer com o anti-herói, outro dos tipos desditosos a habitar o universo do cineasta, e àquilo que se dá de fato. Fujii e o corroteirista Kazuhisa Kotera conservam o ar de mistério do livro homônimo de Tamehito Somei, ao qual acrescem medidas generosas de sangue, até encontrarem a hora certa para fazer a grande revelação da trama.

Keiichi Kaburagi está preso na introdução de “Verdadeira Identidade”, mas por pouco tempo. Ele vem planejando, com a licença do trocadilho, uma fuga cinematográfica, e realmente foge, mas nunca sai do radar de Seigo Matanuki, policial responsável por sua detenção. Ryūsei Yokohama e Takayuki Yamada dominam a cena nos minutos iniciais do filme, preparando a ação para personagens tão ou mais improváveis, quiçá oníricos, como se originados num sonho bom ou num pesadelo.

Keiichi mistura-se num canteiro de obras, ganha a confiança de Kazuya, o colega vivido por Shintaro Morimoto, e descoberto e resolve que deve ir para Tóquio, onde encontra trabalho como escritor freelancer. A partir desse ponto, Fujii começa a elaborar a solução do caso do protagonista, aproveitando para também urdir o romance que leva o enredo a caminhos menos espinhosos, com Keiichi e Sayaka, a editora interpretada por Riho Yoshioka, personificando um par nada convencional.

Uma profusão de acrobacias e efeitos visuais mais sofisticados passa a ser a tônica da metade para o final, frisando uma certa natureza sobre-humana de Keiichi. Yokohama sabe exatamente como arrastar a plateia para a característica loucura artística de Michihito, capaz de fazer qualquer um acreditar que o sistema judicial é mesmo aquela maravilha. Possíveis acusações de propaganda oficial perdem força diante de uma ficção sólida, bem-construída o suficiente para que cada um tire suas próprias conclusões. Por mais absurdas que elas possam soar.

Filme: Verdadeira Identidade
Diretor: Michihito Fujii
Ano: 2024
Gênero: Crime/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.